Necessidade da vida social
Deus fez o homem para viver em sociedade. Não lhe deu inútilmente a palavra e todas as outras faculdades necessárias à vida de relação.
O isolamento absoluto é contrário à lei da natureza, pois que por instinto os homens buscam a sociedade e todos devem concorrer para o progresso, auxiliando-se mutuamente.
O homem tem que progredir. Isolado, não lhe é possível, por não dispor de todas as faculdades; é-lhe necessário o contato com os outros homens. No insulamento, ele se embrutece e estiola.
Nenhum homem possui faculdades completas. Mediante a união social é que elas umas às outras se completam, para lhe assegurarem o bem-estar e o progresso. Por isso é que, precisando uns dos outros, os homens foram feitos para viver em sociedade e não isolados.
Vida de insulamento - Voto de silêncio
A satisfação que o insulamento absoluto causa ao homem, é uma satisfação egoísta. Não pode agradar a Deus uma vida pela qual o homem se condena a não ser útil a ninguém.
Viver em absoluta reclusão, para fugir ao pernicioso contato do mundo é duplo egoísmo.
Não é meritório esse retraimento se tiver por fim uma expiação, impondo-se aquele que o busca uma privação penosa, pois fazer maior soma de bem do que de mal constitui a melhor expiação. Evitando um mal, aquele que por tal motivo se insula cai noutro, pois esquece a lei de amor e de caridade.
Os que fogem do mundo para se dedicarem a socorrer os desgraçados, esses sim se elevam, rebaixando-se. Têm o duplo mérito de se colocarem acima dos gozos materiais e de fazerem o bem pelo cumprimento da lei do trabalho.
O voto de silêncio prescrito por algumas seitas, desde a mais remota antiguidade, é uma tolice.
Perguntemos, antes, a nós mesmos se a palavra é faculdade natural e por que Deus a concedeu ao homem. Deus condena o abuso e não o uso das faculdades que lhe outorgou. Entretanto, o silêncio é útil, pois no silêncio colocamos em prática o recolhimento; nosso espírito se torna mais livre e pode então entrar em comunicação com a espiritualidade. Mas o voto de silêncio é uma tolice. Sem dúvida têm boa intenção os que consideram essas privações como atos de virtude. Enganam-se, no entanto, porque não compreendem suficientemente as verdadeiras leis de Deus.
O voto de silêncio absoluto, do mesmo modo que o voto de insulamento, priva o homem das relações sociais que lhe podem facultar ocasiões de fazer o bem e de cumprir a lei do progresso.
Laços de família
Entre os animais, os pais e os filhos deixam de reconhecer-se quando estes não mais precisam de cuidados, pois os animais vivem vida material e não vida moral. A ternura da mãe pelos filhos tem por princípio o instinto de conservação dos seres que ela deu à luz. Logo que esses seres podem cuidar de si mesmos, está ela com a sua tarefa concluída; nada mais lhe exige a natureza. Por isso é que os abandona, a fim de se ocupar com os recém-vindos.
Diverso do dos animais é o destino do homem. Há no homem alguma coisa mais, além das necessidades físicas: há a necessidade de progredir. Os laços sociais são necessários ao progresso e os de família mais apertados tornam os primeiros. Eis por que os segundos constituem uma lei da natureza. Quis Deus que, por essa forma, os homens aprendessem a amar-se como irmãos.
Para a sociedade, o resultado do relaxamento dos laços de família é uma recrudescência do egoísmo.
Referência:
O Livro dos Espíritos - Terceira Parte - Cap. VII - Allan Kardec.