“Os laços de família não são destruídos pela reencarnação, […], eles são fortalecidos e se estreitam; é o princípio oposto que os destrói.” ¹
Um dos grandes temores que nos assolam, quando sentimos verdadeiro afeto pelos entes consanguíneos, é a ruptura dos laços de afeição que pode ocorrer com a chegada da morte. Segundo concepções que ainda sobrenadam, se um ente querido vai fruir dos “gozos eternos do céu”, e outro vai sofrer as consequências “infernais” ou “purgatoriais”, jamais voltarão a se reencontrar e, nesse caso, uma dor profunda, uma angústia pungente, causa, por outro lado, o apego material, a possessão, o ciúme que beira ao desequilíbrio.
Em paralelo a esse pensamento, esses mesmos temerosos não sabem explicar a afeição que brota no íntimo do ser quando dá-se, frente a frente, com outro alguém que jamais tenha visto na existência; não dão respostas aceitáveis para a abrupta irradiação que ocorre entre as almas que, malgrado não tenham tido contato, são como almas irmãs, entes afins, achegados do coração, e cujos sentimentos geram a comoção entre elas.
Ora, para que entendamos tal princípio, é preciso permitir que nossa mente, impulsionada pela vontade do Espírito que habita em nós, alce voos racionais e mais lógicos…
Se não existem vidas sucessivas – ou reencarnação – como explicar essas afeições que nutrimos, tal como as desafeições tão comuns no nosso dia a dia?
Dirão alguns tratar-se de “energias afins e repulsivas”. Sim – respondemos – a energia é consequência da vibração do próprio Espírito. Mas qual a sua causa? Qual a sua origem? Por que a repulsa por uns e não por outros? Como explica-la?
Não devemos tomar o efeito pela causa, pois é notório que a afeição e simpatia que nutrimos abruptamente está ligada à preexistência que nossas almas tiveram no contato com outras almas. É fruto dos embates, dos gostos, das tendências, das vitórias e derrotas que nos uniram em existências pretéritas.
Difícil compreender esse ponto de vista? E se pedirmos explicação, então, para a causa das diferentes condições que os irmãos de humanidade trazem desde o berço, como saúde de uns e doenças congênitas de outros? Seria a justiça de Deus?
Bem se vê que o homem tacanho, de mente ainda arraigada a conceitos dogmáticos, carece de melhor compreensão da Lei Divina, que é pura em toda a sua extensão. Nela reside o Amor sublime e os laços de família, longe de serem quebrados pelas sucessivas vidas, são, ao contrário, fortalecidos, enraizados, enfeixados, eternizados no sentimento verdadeiro que, um dia, nos permitirá reconhecer toda a Humanidade, como uma só família.
Assim, verdadeiramente é, e para sempre será.
Autor: Kesley Seyssel
[1] O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. IV, “Os Laços de Família Fortalecidos pela Reencarnação e Quebrados pela Unicidade da Existência”.