Nunca houve e nem é possível a igualdade absoluta das riquezas. A isso se opõe a diversidade das faculdades e dos caracteres.
Os homens que julgam ser esse o remédio aos males da sociedade são cultores de sistemas, ou ambiciosos cheios de inveja. Não compreendem que a igualdade com que sonham seria a curto prazo desfeita pela força das coisas.
Mas o bem-estar, sim, é relativo; todos poderiam dele gozar, se se entendessem convenientemente, porque o verdadeiro bem-estar consiste em cada um empregar o seu tempo como lhe apraza, e não na execução de trabalhos pelos quais nenhum gosto sinta. Como cada um tem aptidões diferentes, nenhum trabalho útil ficaria por fazer. Em tudo existe o equilíbrio; o homem é quem o perturba.
A desigualdade das riquezas pode se originar da virtude de que uns dispõem de mais meios de adquirir bens do que outros, e isso se dá, muitas vezes, através da velhacaria e do roubo.
Os que herdam uma riqueza inicialmente mal adquirida, não são responsáveis pelo mal que outros tenham feito, sobretudo se o ignoram, como é possível que aconteça. Mas, muitas vezes, a riqueza só vem ter às mãos de um homem para lhe proporcionar ensejo de reparar uma injustiça. Feliz dele, se assim o compreende! Se a fizer em nome daquele que cometeu a injustiça, a ambos será a reparação levada em conta, porquanto, não raro, é este último quem a provoca.
Seremos responsáveis, depois da morte, pelo destino que houvermos dado a nossa possível riqueza, pois toda ação produz seus frutos; doces são os das boas ações, amargos sempre os das outras.
Somente será possível os homens se entenderem quando praticarem a lei de justiça.
Deus a uns concedeu as riquezas e o poder, e a outros, a miséria para experimentá-los de modos diferentes. Além disso, essas provas foram escolhidas pelos próprios Espíritos, que nelas, entretanto, sucumbem com frequência.
As duas provas podem ser terríveis para o homem, a da miséria ou a da riqueza. A miséria provoca as queixas contra a Providência; a riqueza incita a todos os excessos.
Estando o rico sujeito a maiores tentações, também dispõe, por outro lado, de mais meios de fazer o bem. Mas é justamente o que nem sempre faz. Torna-se egoísta, orgulhoso e insaciável. Com a riqueza, suas necessidades aumentam e ele nunca julga possuir o bastante para si.
A alta posição do homem neste mundo e a autoridade sobre os seus semelhantes são provas tão grandes e tão escorregadias como a miséria, porque, quanto mais rico e poderoso é ele, tanto mais obrigações tem que cumprir e tanto mais abundantes são os meios de que dispõe para fazer o bem e o mal. Deus experimenta o pobre pela resignação e o rico pelo emprego que dá aos seus bens e ao seu poder.
A riqueza e o poder fazem nascer todas as paixões que nos prendem à matéria e nos afastam da perfeição espiritual. Por isso foi que Jesus disse: “Em verdade vos digo que mais fácil é passar um camelo por um fundo de agulha do que entrar um rico no reino dos céus.”
Referências:
O Livro dos Espíritos - Terceira Parte - Cap.IX - Allan Kardec.