Liberdade natural
Não há no mundo posições em que o homem possa gozar de absoluta liberdade, porque todos precisamos uns dos outros, assim os pequenos como os grandes.
Somente o eremita no deserto teria condições de sentir absoluta liberdade. Desde que juntos estejam dois homens, há entre eles direitos recíprocos que lhes cumprem respeitar; não mais, portanto, qualquer deles goza de liberdade absoluta.
A obrigação de respeitar os direitos alheios não tira ao homem o de pertencer-se a si mesmo, porquanto este é um direito que lhe vem da natureza.
Há casos em que as opiniões liberais de certos homens se confundem com o despotismo que costumam exercer no seu lar e sobre os seus subordinados. Estes têm a compreensão da lei natural, mas contrabalançada pelo orgulho e pelo egoísmo. Quando não representam calculadamente uma comédia, sustentando princípios liberais, compreendem como as coisas devem ser, mas não as fazem assim.
Quanto mais inteligência tem o homem para compreender um princípio, menos escusável é de o não aplicar a si mesmo. O homem simples, porém sincero, está mais adiantado no caminho de Deus, do que um que pretenda parecer o que não é.
Escravidão
É contrária à lei de Deus toda sujeição absoluta de um homem a outro homem. A escravidão é um abuso da força. Desaparece com o progresso, como gradativamente desaparecerão todos os abusos.
A escravidão assemelha o homem ao irracional e o degrada física e moralmente.
Quando a escravidão faz parte dos costumes de um povo, são censuráveis os que dela se aproveitam, mesmos que só o façam conformando-se com um uso que lhes parece natural. O mal é sempre o mal e não há sofisma que faça se torne boa uma ação má. A responsabilidade, porém, do mal é relativa aos meios de que o homem dispõe para compreendê-lo. Aquele que tira proveito da lei da escravidão é sempre culpado de violação da lei da natureza.
A desigualdade natural das aptidões coloca certas raças humanas sob a dependência das raças mais inteligentes, mas para que estas as elevem, não para embrutecê-las ainda mais pela escravização. Durante longo tempo, os homens consideraram certas raças humanas como animais de trabalho, munidos de braços e mãos, e se julgaram com o direito de vender os dessas raças como bestas de carga. Consideravam-se de sangue mais puro os que assim procediam. Mais ou menos puro não é o sangue, porém o Espírito.
Desde que, mais desenvolvida e, sobretudo, esclarecida pelas luzes do Cristianismo, a razão mostrou que o escravo era um ser igual a qualquer outro homem perante Deus.
Referências:
O Livro dos Espíritos - Terceira Parte - Cap. X - Allan Kardec.