Todas as virtudes têm seu mérito, porque todas indicam progresso na senda do bem. Existe virtude sempre que há resistência voluntária ao arrastamento dos maus pendores. A sublimidade da virtude, porém, está no sacrifício do interesse pessoal pelo bem do próximo, sem pensamento oculto. A mais meritória é a que assenta na mais desinteressada caridade.


Existem pessoas que fazem o bem espontaneamente, sem que precisem vencer quaisquer sentimentos que lhes sejam opostos. Só não têm que lutar aqueles em quem já há progresso realizado. Esses lutaram outrora e triunfaram. Por isso é que os bons sentimentos nenhum esforço lhes custam e suas ações lhes parecem simplíssimas. O bem se lhes tornou um hábito.


Como ainda estamos longe da perfeição, tais exemplos nos espantam pelo contraste com o que temos à vista, e tanto mais os admiramos, quanto mais raros são. Nos mundos mais adiantados do que o nosso, constitui a regra o que entre nós representa a exceção. Em todos os pontos desses mundos o sentimento do bem é espontâneo, porque somente Espíritos bons os habitam. Lá, uma só intenção maligna seria monstruosa exceção. Eis por que neles os homens são ditosos. O mesmo se dará na Terra quando a humanidade se houver transformado, quando compreender e praticar a caridade na sua verdadeira acepção.


O sinal mais característico da imperfeição seria o interesse pessoal. Pode um homem possuir qualidades reais, que levem o mundo a considerá-lo homem de bem. Mas essas qualidades, apesar de assinalarem um progresso, nem sempre suportam certas provas, e às vezes basta que se fira a corda do interesse pessoal para que o fundo fique a descoberto. O verdadeiro desinteresse é coisa ainda tão rara na Terra que, quando se patenteia, todos o admiram como se fora um fenômeno.


O apego às coisas materiais constitui sinal notório de inferioridade, porque, quanto mais se aferra aos bens deste mundo, tanto menos compreende o homem o seu destino. Pelo desinteresse, ao contrário, demonstra que encara de um ponto mais elevado o futuro.


Pessoas desinteressadas, mas sem discernimento, que são pródigas com seus haveres sem utilidade real, por não saberem lhes dar emprego criterioso, têm a virtude do desinteresse, porém não tem a virtude do bem que poderiam fazer. O desinteresse é uma virtude, mas a prodigalidade irrefletida constitui sempre, pelo menos, falta de juízo. A riqueza, assim como não é dada a uns para ser aferrolhada num cofre forte, também não o é a outros para ser dispersada ao vento. Representa um depósito de que uns e outros terão de prestar contas, porque terão de responder por todo o bem que podiam fazer e não fizeram.


O bem deve ser feito caritativamente, isto é, com desinteresse. Aquele que faz o bem sem ideia preconcebida, pelo só prazer de ser agradável a Deus e ao seu próximo que sofre, já se acha num certo grau de progresso, que lhe permitirá alcançar a felicidade muito mais depressa do que seu irmão que, mais positivo, faz o bem por cálculo e não impelido pelo ardor natural do seu coração.


Quando se diz fazer o bem queremos significa ser caridoso. Procede como egoísta todo aquele que calcula o que lhe possa cada uma de suas boas ações render na vida futura, tanto quanto na vida terrena. Nenhum egoísmo, porém, há em querer o homem melhorar-se, para se aproximar de Deus, pois que é o fim para o qual devem todos tender.”


Em relação à adquirir conhecimentos científicos que só digam respeito às coisas e às necessidades materiais, é útil nos esforçar. Primeiramente, isso nos põe em condições de auxiliar os nossos irmãos; depois, o nosso Espírito subirá mais depressa, se já houver progredido em inteligência. Nos intervalos das encarnações, aprenderemos numa hora o que na Terra nos exigiria anos de aprendizado. Nenhum conhecimento é inútil; todos mais ou menos contribuem para o progresso, porque o Espírito, para ser perfeito, tem que saber tudo, e porque, cumprindo que o progresso se efetue em todos os sentidos, todas as ideias adquiridas ajudam o desenvolvimento do Espírito.



O homem que estudar os defeitos alheios, incorrerá em grande culpa, se o fizer para os criticar e divulgar, porque será faltar com a caridade. Se o fizer para sua instrução pessoal e para evitá-los em si próprio, tal estudo poderá algumas vezes ser-lhe útil. Importa, porém, não esquecer que a indulgência para com os defeitos dos outros é uma das virtudes contidas na caridade. Antes de censurar as imperfeições dos outros, vejamos se de nós não poderão dizer o mesmo. Tratemos, pois, de possuir as qualidades opostas aos defeitos que criticamos no nosso semelhante. Esse é o meio de nos tornarmos superiores a ele. Se lhe censuramos o ser avaro, sejamos generosos; se o ser orgulhoso, sejamos humildes e modestos; se o ser áspero, sejamos brandos; se o proceder com pequenez, sejamos grandes em todas as nossas ações. Numa palavra, devemos fazer da maneira que se não nos possam aplicar estas palavras de Jesus: Vê o argueiro no olho do seu vizinho e não vê a trave no seu próprio.


A moral sem as ações é o mesmo que a semente sem o trabalho. De que nos serve a semente, se não a fazemos dar frutos que nos alimentem? 


O homem, pesando todos os seus atos na balança da lei de Deus e, sobretudo, na lei de justiça, amor e caridade, poderá dizer a si mesmo se suas obras são boas ou más, se as poderá aprovar ou desaprovar. Não se lhe pode, portanto, censurar que reconheça haver triunfado dos maus pendores e que se sinta satisfeito, desde que de tal não se envaideça, porque então cairia noutra falta.



Referências:

O Livro dos Espíritos - Terceira Parte - Cap. XII - Allan Kardec.

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