A erraticidade é o estado mais natural para o espírito e que, mesmo assim, há uma grande dificuldade de reconhecê-lo como tal e, além disso, que uma grande parcela dos desencarnados necessita apenas continuar com suas vidas  [1].

Na questão transcrita a seguir, Kardec apresenta uma pergunta que expressa a dificuldade encontrada pela criatura humana em se identificar com o seu estado natural de espírito [2]:

 De que modo se instruem os espíritos errantes? Certo não o fazem do mesmo modo que nós outros?

“Estudam e procuram meios de elevar-se. Vêem, observam o que ocorre nos lugares aonde vão; ouvem os discursos dos homens doutos e os conselhos dos espíritos mais elevados e tudo isso lhes incute ideias que antes não tinham.”

 É difícil de saber qual foi a intenção de Kardec ao formular a pergunta com o adendo de que certamente a evolução, na erraticidade, não ocorria do mesmo modo que os encarnados, pois, ele possuía, se é que podemos afirmar, o melhor entendimento da Codificação dentre os encarnados, tanto na época quanto atualmente. Contudo, podemos supor que almejava salientar a natureza da sua pergunta.

A resposta todavia, não poderia ser mais clara e direta. O processo de instrução, seja na condição de encarnado ou na erraticidade, é exatamente o mesmo: o estudo, a busca de meios para a própria elevação, a atenção às experiências, a frequência em palestras de temas variados e ouvir conselhos dos mais experientes. Isto nos diz que a evolução é decorrente do esforço pessoal e dedicação.

Todavia, a condição em si mesma não é garantia de aprimoramento. Muitos, diante de oportunidades múltiplas, preferem divertimentos diversos. Noites e dias inteiros de festejos variados, enquanto que os estudos são negligenciados.

A internet proporciona material educacional inestimável, numerosas universidades disponibilizam cursos, palestras e textos acadêmicos, livros para baixar gratuitamente, vídeos educacionais, dentre outros. Todavia, o número de acessos é muito baixo, dificultando a captação de recursos. Em contrapartida, páginas e vídeos de conteúdo duvidoso e de muito baixo teor são visitados aos milhares, obtendo recurso valioso, porém, mal empregado. 

O ser se comportará na erraticidade de forma semelhante ao seu comportamento enquanto na crosta. Desta forma, aquele que busca apenas divertimento, permanecerá sem se ocupar com estudo; em contrapartida, o estudioso manterá o padrão acelerado de evolução.

Interessante que, segundo os responsáveis pela Codificação, os espíritos elevados deixam, com o invólucro material, as paixões más e só guardam a do bem [3] - aqui precisamos ponderar acerca de “elevados”, pois não necessariamente seriam aqueles de alto grau evolutivo, mas os que buscam o aprimoramento pessoal. Em contrapartida, os espíritos inferiores conservam as paixões más [3]. 

É preciso lembrar que buscar o bem e ocupação sadia é sinal de elevação e atrai, para si, os bons espíritos enquanto repele os maus.

A duração de tempo entre encarnações em que o espírito passa na erraticidade, segundo a  Codificação, varia entre horas e milhares de séculos [4]. Podendo, esta faixa, ser muito ampla, verifica-se a necessidade de esforço, por parte do espírito, no sentido de aproveitar este período para seu aprimoramento. Caso contrário, pode desperdiçar precioso tempo, assim como muitos o fazem durante o período de encarnado.

A encarnação, apesar de ser relativamente curta quando comparado com o possível largo período na erraticidade, é oportunidade preciosa em decorrência de toda a complexidade em estabelecer as condições necessárias para que o espírito possa encarnar, desde antes da fecundação do óvulo, passando pela gestação, nascimento e todos os anos até atingir plena consciência de si para que possa ponderar acerca da sua própria existência e identificar aquilo que necessita ser feito.

A importância da experiência na condição de encarnado é tamanha que é nesta que o espírito põe em prática aquilo que conquistou na erraticidade [5]. Desta forma, ambas as condições se mostram fundamentais, não podendo desprezar uma acreditando que poderá compensar na outra. Assim, uma encarnação perdida em decorrência de negligência conduzirá à experiências penosas por ser necessário a repetição de ensinamentos previamente vivenciados e aprendidos, mas que não foram postos em prática.

Por outro lado, um período na erraticidade negligenciado acarretará em uma experiência corporal penosa por não ter aprendido aquilo que utilizaria na prática, assim, se vê diante de situações para as quais não sabe como proceder.

Em geral, espíritos compatíveis com um mundo de expiações e provas tendem para a negligência e, por este mesmo motivo, encontramos tanto sofrimento na Terra.

       

Notas bibliográficas:

1. Claudio C. Conti; Erraticidade, Jornal Correio Espírita, Setembro de 2018.

2. Allan Kardec; O Livro dos Espíritos, questão 227.

3. Ibid.; 228.

4. Ibid.; 224a.

5. Ibid.; 231.


Autor: Cláudio Conti

Fonte: correioespirita.org.br


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