Providência é, neste mundo, tudo o que se faz dispondo as coisas de modo que se realizem objetivos de ordem e harmonia, visando o bem e a felicidade das criaturas, com a plena satisfação das suas reais necessidades, sejam físicas ou espirituais.
Segundo anotações de Kardec no livro A Gênese, a providência é a solicitude de Deus para com as suas criaturas. Ele está em toda parte(…), continua o codificador, (…) tudo vê, a tudo preside, mesmo às coisas mínimas. É nisto que consiste a ação providencial.
Está intimamente no Universo, manifestando-se em todas as coisas e por meio de leis admiráveis e sábias. Tudo foi disposto pelo amor do Pai, soberanamente bom e justo, para o bem de seus filhos, desde as mais elementares ações para a manutenção da vida orgânica e a sua transmissão, garantindo a perpetuação da espécie, até a faculdade superior do livre-arbítrio, que dá ao homem o mérito da conquista consciente da felicidade, através da observância de suas leis.
A providência é, ainda, o Espírito Superior, é o anjo velando sobre o infortúnio, é o consolador invisível cujas inspirações reaquecem o coração gelado pelo desespero, cujos fluidos vivificantes sustentam o viajor prostrado pela fadiga; é o farol aceso no meio da noite, para a salvação dos que erram sobre o mar tempestuoso da vida.
Concluindo, podemos afirmar que é o Amor Divino a manifestar-se em nós, através da circunstância que, por sua vez, é a vontade do Criador em favor da criatura.
Como pode Deus, tão grande, tão poderoso, tão superior a tudo, imiscuir-se em pormenores íntimos, preocupar-se com os menores atos e os menores pensamentos de cada indivíduo?
Para responder a esta questão, temos um exemplo anotado por Allan Kardec, tirado de uma instrução dada por um Espírito, na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas em 1867:
O homem é um pequeno mundo, que tem como diretor o Espírito e como dirigido o corpo. Nesse universo, o corpo representará uma criação cujo Deus seria o Espírito. (Compreendei bem que aqui há uma simples questão de analogia e não de identidade.) Os membros desse corpo, os diferentes órgãos que o compõem, os músculos, os nervos, as articulações são outras tantas individualidades materiais, se assim se pode dizer, localizadas em pontos especiais do referido corpo. Se bem seja considerável o número de suas partes constitutivas, de natureza tão variada e diferente, a ninguém é lícito supor que se possam produzir movimentos, ou uma impressão em qualquer lugar, sem que o Espírito tenha consciência do que ocorra. Há sensações diversas em muitos lugares simultaneamente? O Espírito as sente todas, distingue, e analisa, assina a cada uma a causa determinante e o ponto em que se produziu, tudo por meio do fluido perispirítico.
Análogo fenômeno ocorre entre Deus e a Criação. Deus está em toda parte, na Natureza, como o Espírito está em toda a parte, no corpo. Todos os elementos da criação se acham em relação constante com Ele, como todas as células do corpo humano se acham em contato imediato com o ser espiritual. Não há, pois, razão para que fenômenos da mesma ordem não se produzam de maneira idêntica num e noutro caso.
Um membro se agita: O Espírito o sente; uma criatura pensa: Deus o sabe. Todos os membros estão em movimento, os diferentes órgãos estão a vibrar; o Espírito ressente todas as manifestações, as distingue e localiza. As diferentes criações, as diferentes criaturas se agitam, pensam, agem diversamente: Deus sabe o que se passa e assina a cada um o que lhe diz respeito.
Daí se pode igualmente deduzir a solidariedade da matéria e da inteligência, a solidariedade entre si de todos os seres de um mundo, de todos os mundos e, por fim, de todas as criações com o Criador.
(Quinemant)
Finalizando este sintético estudo, gostaríamos de deixar para meditação algumas palavras do nosso iluminado Allan Kardec, no seu livro A Gênese:
Compreendemos o efeito: já é muito. Do efeito remontamos à causa e julgamos da sua grandeza pela do efeito. Escapa-nos, porém, a sua essência íntima, como a da causa de uma imensidade de fenômenos. Conhecemos os efeitos da eletricidade, do calor, da luz, da gravitação; calculamo-los e, entretanto, ignoramos a natureza íntima do princípio que os produz. Será então racional neguemos o princípio divino, por que não o compreendemos? (…) Diante desses problemas insondáveis, cumpre que a nossa razão se humilhe. Deus existe: disso não poderemos duvidar. É infinitamente justo e bom; essa a sua essência. A tudo se estende a sua solicitude: compreendemo-lo. Só o nosso bem, portanto, pode ele querer. Donde se segue que devemos confiar nele: é o essencial. Quanto ao mais, esperemos que nos tenhamos tornado dignos de o compreender.
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