A perda dos entes que nos são caros constitui para nós legítima causa de dor, tanto mais legítima quanto é irreparável e independente da nossa vontade. Essa causa de dor atinge assim o rico como o pobre: é uma prova ou uma expiação, e constitui lei para todos. Temos, porém, uma consolação em poder comunicar-nos com os nossos amigos pelos meios que nos estão ao alcance, enquanto não dispomos de outros mais diretos e mais acessíveis aos nossos sentidos.
Nas comunicações com o além-túmulo não há profanação, quando haja recolhimento e quando a evocação seja praticada com respeito e conveniência. A prova de que assim é temos no fato de que os Espíritos que nos consagram afeição acodem com prazer ao nosso chamado. Sentem-se felizes por nos lembrarmos deles e por se comunicarem conosco. Haveria profanação se isso fosse feito levianamente.
A possibilidade de nos pôrmos em comunicação com os Espíritos é uma dulcíssima consolação, pois que nos proporciona meio de conversarmos com os nossos parentes e amigos que deixaram antes de nós a Terra. Pela evocação, aproximamo-los de nós; vêm colocar-se ao nosso lado, nos ouvem e respondem. Desse modo, cessa, por bem dizer, toda separação entre eles e nós. Auxiliam-nos com seus conselhos, testemunham-nos o afeto que nos guardam e a alegria que experimentam por nos lembrarmos deles. Para nós, grande satisfação é saber que estão felizes, informar-nos, por seu intermédio, dos pormenores da nova existência a que passaram e adquirir a certeza de que um dia nos iremos a eles juntar.
As dores inconsoláveis dos que sobrevivem se refletem nos Espíritos por quem as sofrem. O Espírito é sensível à lembrança e às saudades dos que lhe eram caros na Terra; mas, uma dor incessante e desarrazoada o toca penosamente, porque nessa dor excessiva ele vê falta de fé no futuro e de confiança em Deus e, por conseguinte, um obstáculo ao adiantamento dos que o choram e, talvez, à sua reunião com eles.
Estando o Espírito mais feliz no Espaço que na Terra, lamentar que ele tenha deixado a vida corpórea é deplorar que seja feliz. Figuremos dois amigos que se achem metidos na mesma prisão. Ambos alcançarão um dia a liberdade, mas um a obtém antes do outro. Seria caridoso que o que continuou preso se entristecesse porque o seu amigo foi libertado primeiro? Não haveria, de sua parte, mais egoísmo do que afeição em querer que do seu cativeiro e do seu sofrer partilhasse o outro por igual tempo? O mesmo se dá com dois seres que se amam na Terra. O que parte primeiro é o que primeiro se liberta e só nos cabe felicitá-lo, aguardando com paciência o momento em que a nosso turno também o seremos.
Façamos ainda, a este propósito, outra comparação. Temos um amigo que, junto de nós, se encontra em penosíssima situação. Sua saúde ou seus interesses exigem que vá para outro país, onde estará melhor a todos os respeitos. Deixará temporariamente de se achar ao nosso lado, mas com ele nos corresponderemos sempre: a separação será apenas material. O seu afastamento iria nos trazer desgosto, embora para o bem dele?
Pelas provas patentes que fornece da vida futura, da presença em torno de nós daqueles a quem amamos, da continuidade da afeição e da solicitude que nos dispensavam; pelas relações que nos faculta manter com eles, a doutrina espírita nos oferece suprema consolação, por ocasião de uma das mais legítimas dores. Com o Espiritismo, não há mais solidão, não há mais abandono: o homem, por muito insulado que esteja, tem sempre perto de si amigos com quem pode comunicar-se.
Impacientemente suportamos as tribulações da vida. Tão intoleráveis nos parecem, que não compreendemos que possamos sofrê-las. Entretanto, se as tivermos suportado corajosamente, se soubermos impor silêncio às nossas murmurações, nos felicitaremos, quando fora desta prisão terrena, como o doente que sofre se felicita, quando curado, por se haver submetido a um tratamento doloroso.
Referências:
O Livro dos Espíritos - Quarta Parte - Cap. I - Allan Kardec.