Em nossa Casa temos o plantão de passes. Certo dia, estavam as encarregadas em plena função, quando entrou um senhor e sentou-se.


Uma de nossas passistas, que é uma pessoa muito distraída, ingênua, chegou perto dele e aplicou-lhe a bioenergia com todo o amor. Terminado o mister, todos os beneficiados saíram e entrou novo grupo, mas ele continuou sentado.


Ela pensou: naturalmente ele não se sentiu melhor. Fez então a leitura de praxe, os comentários, a prece e aplicou os passes. Aproximou-se do homem e repetiu o socorro fluídico, agora, mais cuidadosamente ainda. Terminando, saíram todos e ele não se mexeu do lugar. Entraram outras pessoas e ela ficou intrigada.


Então, fez uma leitura maior e comentou-a, dizendo, a certa altura, que a pessoa tem de se abrir para Deus, tornar-se receptiva às bênçãos divinas, para ser beneficiada; explicou que o passe é uma transfusão de energias, porém, cada um tem de fazer a sua parte. Preparou a água, fluidificou-a, aplicou passes em todos, e, chegando junto ao senhor, transmitiu-lho por terceira vez. Deu-lhe, em seguida, a água fluidificada, dizendo:


— Agora o senhor já pode ir, pois já o atendi por três vezes. Por que o senhor veio aqui?


— Minha senhora, eu não estou entendendo nada do que a senhora está fazendo.. Eu sou o cobrador da luz. Entrei, vi a porta aberta, estava com calor terrível, uma dor de cabeça violenta. Então sentei-me aqui, por estar muito fresquinho e agradável. A senhora chegou, fez estes movimentos sobre a minha cabeça, eu não entendi nada. A dor de cabeça passou. Eu sofro de uma dispepsia nervosa; a senhora veio, fez aqueles gestos outra vez. Eu pensei: — Daqui não saio enquanto esta senhora fizer isto sobre a minha cabeça. — Agora estou ótimo! A senhora pode explicar-me o que é isto?


— Bem, primeiro, a luz é paga lá, na outra sala. Depois, aqui é uma Instituição Espírita — e explicou-lhe tudo.


O homem passou a frequentar as reuniões. Ela deu-lhe O Livro dos Espíritos, enquanto ele ficou-lhe como afilhado emocional. Hoje é passista plantonista da Casa.


Podemos ver como funciona o mecanismo do Mundo Espiritual...


Muita gente diz: — Não se deve dar passes; não se deve fazer isto ou aquilo, escondendo-se no comodismo. — Vamos passar o verbo para a ação positiva: Vamos fazer. Se não der resultado, realizamos o melhor ao nosso alcance.


A nossa tarefa é ajudar sempre, pois nunca sabemos quando a semente vai germinar. Então, saiamos a semear. Que elas caiam onde caírem. As que ficarem aparentemente perdidas no asfalto, nas pedras e na terra safara, serão resgatadas por uma apenas que encontre terra boa.


Lançamos mil sementes; se perdermos novecentas e noventa e nove, uma que germine vai dar-nos dez mil. O que importa é semear, porque o resultado da colheita é de Deus.


A aplicação do passe, o número de passes aplicados, a forma de ministrá-los; deve-se restringi-los ou atender a todos?


Estas são algumas das questões constantemente formuladas, estudadas e debatidas pelos que se interessam pelo bom andamento dos trabalhos espíritas.


Técnicas foram criadas, cursos de passes, páginas são escritas, seminários, palestras, até livros específicos sobre o assunto, expressando uma preocupação permanente em nosso meio espírita quanto à prática correta para a sua aplicação.


O passe é um ato de amor e deve ser transmitido no clima que este sentimento propicia a quem o cultiva. Isto envolve a alegria de servir, o entusiasmo de ser útil, de sentir-se solidário com o próximo; é todo um exercício de amar.


Jesus curava pelo olhar; pelo suave magnetismo do Seu amor; pelo impulso da vontade; à distância; pela imposição das mãos... Ele deixou-nos o exemplo. Todavia, a nossa carência de valores íntimos impede-nos de conseguir melhores resultados. Em razão disso surgiram algumas técnicas para a aplicação do passe, com a finalidade de aprimorá-lo, isto é, de suprir, talvez, as nossas dificuldades. Os próprios autores espirituais fazem referência a algumas dessas técnicas. André Luiz, no capítulo de Missionários da Luz, intitulado "Passes", menciona o passe longitudinal e o rotatório utilizado pelos Instrutores Espirituais. Manoel Philomeno de Miranda refere-se aos passes de dispersão fluídica e ao longitudinal, em Grilhões Partidos e Painéis da Obsessão.


As técnicas seriam, pois, os recursos auxiliares na condução das energias espirituais e físicas.


Mas, atualmente, este assunto — passes — tornou-se um problema complexo, porque, no afã desse aprimoramento, surgiram algumas novidades para se ministrá-lo, tão complicadas que dificultam o que deveria ser simples, talvez até com prejuízo do verdadeiro sentido de doação e de amor que são primordiais.


Isto motivou uma corrente de opinião que diz não serem necessárias as técnicas, nem as mais simples, bastando apenas a imposição de mãos.


Nesse contexto todo, uma coisa é evidente e fundamental: o sentimento com que o passe é transmitido, porque este é um trabalho que jamais deverá ser feito de maneira maquinal. Na verdade, a essência do passe é o amor. O amor que dimana do nosso Pai e Criador em favor de todos os Seus filhos. O amor de Jesus Cristo que impregna o nosso planeta, do qual Ele é o Governador Espiritual, conforme assevera Leon Denis. O amor dos Benfeitores Espirituais, sempre tão abnegados e solícitos em socorrer as dores humanas. O amor que o passista deve cultivar a fim de que se torne médium dos Espíritos Amigos e juntos, unindo sentimentos, possam doá-los a quem necessita.


E para que esse amor logre atingir a finalidade para a qual é canalizado, o passista não pode prescindir dos valores morais indispensáveis, lutando pela reforma íntima e constante progresso espiritual, a fim de tornar-se um bom servidor.


Outro ponto que merece ser ressaltado e do qual não se deve prescindir nessa tarefa é o da ética do passe. O passista deve preservá-la, usando ou não as técnicas. A pretexto de doar, que não se vá tocar o receptor ou fazer ruídos, estalar de dedos etc. Também que se evitem quaisquer tipos de consultas e orientações no momento da aplicação. Aliás, Kardec é bem claro sobre esta questão quando diz que o médium deve evitar tudo que o transforme em agente de consultas. Esses cuidados, no seu conjunto, constituem a ética do passe.


É oportuno falarmos a respeito do passe a propósito deste tão interessante caso narrado por Divaldo.


A médium passista, conforme se vê, o aplica, nada mais nada menos por três vezes consecutivas no senhor que permanecia sentado, na sala própria.


Obviamente, a pergunta que ela lhe faz após a terceira aplicação, poderia ter sido feita da primeira vez. Entretanto, Divaldo esclarece, logo no início, que ela era uma pessoa distraída, ingênua. Uma pessoa que age, naquele instante preciso, pelo sentimento, pelo desejo puro e simples de ajudar.


Este é um bom exemplo para quantos se preocupam, em demasia, com o uso das técnicas em nossos serviços espiritistas, em prejuízo da espontaneidade de sentimentos e do legítimo desejo de praticar o bem e a caridade.


Não se está condenando os novos conhecimentos especializados em torno deste ou daquele assunto, desta ou daquela prática, mas, enfatizando que o excessivo uso das técnicas tem empalidecido o vero sentimento da caridade e do amor.


E no tocante ao passe, quase que se exige hoje em dia, um diploma daquele que quer servir nesta área.


Divaldo ressalta então a questão das restrições: não se deve fazer assim; não se deve fazer isto ou aquilo.


Semear sempre — ele nos conclama.


Semear — ensina Jesus.


Semear — eis um tema muito sério para nossa meditação.


Suely Caldas Schubert - do livro: O Semeador de Estrelas 

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Carmem Lúcia Alves Maia Cabral - 24/08/2023 08h49
Gratidão pelos esclarecimentos
Moema - 24/08/2023 07h07
Gostaria de saber se para dar o passe precisa ser médium ou estar frequentando uma Casa Espírita//Templo/Centro, e no meu caso aplicar o Reiki/Passe ou um e outro separadamente? Gratidão pelos ensinamentos, aprendizados, programação, etc. toda a Equipe Fraternal!!!