O arrependimento se dá no estado espiritual, mas também pode ocorrer no estado corporal, quando bem compreendemos a diferença entre o bem e o mal.


A consequência do arrependimento no estado espiritual ocorre com o arrependido desejar uma nova encarnação para se purificar. O Espírito compreende as imperfeições que o privam de ser feliz e por isso aspira a uma nova existência em que possa expiar suas faltas.


O arrependimento no estado corporal faz com que, já na vida atual, o Espírito progrida, se tiver tempo de reparar suas faltas. Quando a consciência o censura e lhe mostra uma imperfeição, o homem pode sempre melhorar-se.


Todo Espírito tem que progredir incessantemente. Mesmo os homens que parecem ter o instinto do mal e são inacessíveis ao arrependimento. Aquele que, nesta vida, só tem o instinto do mal, terá noutra o do bem e é para isso que renasce muitas vezes, pois é preciso que todos progridam e atinjam a meta. A diferença está somente em que uns gastam mais tempo do que outros, porque assim o querem. Aquele que só tem o instinto do bem já se purificou, visto que talvez tenha tido o do mal em anterior existência.


O homem perverso que não reconheceu suas faltas durante a vida sempre as reconhece depois da morte e, então, mais sofre, porque sente em si todo o mal que praticou, ou de que foi voluntariamente causa. Contudo, o arrependimento nem sempre é imediato. Há Espíritos que se obstinam em permanecer no mau caminho, não obstante os sofrimentos por que passam. Porém, cedo ou tarde, reconhecerão errada a senda que tomaram, e o arrependimento virá. Para esclarecê-los trabalham os Espíritos bons. 


Há Espíritos que não se ocupam de nada útil. Estão na espera. Mas, nesse caso, sofrem proporcionalmente. Devendo em tudo haver progresso, neles o progresso se manifesta pela dor.


Esses Espíritos desejam abreviar seus sofrimentos, mas falta-lhes energia bastante para quererem o que os poderia aliviar. Quantos indivíduos se contam, entre nós, que preferem morrer de miséria a trabalhar?


Existem Espíritos que agravam suas situações e prolongam o estado de inferioridade em que se encontram, fazendo o mal como Espíritos, afastando do bom caminho os homens. Assim procedem os de tardio arrependimento. Pode também acontecer que, depois de se haver arrependido, o Espírito se deixe arrastar de novo para o caminho do mal, por outros Espíritos ainda mais atrasados.


Veem-se Espíritos de notória inferioridade acessíveis aos bons sentimentos e sensíveis às preces que por eles se fazem. A prece só tem efeito sobre o Espírito que se arrepende. Com relação aos que, impelidos pelo orgulho, se revoltam contra Deus e persistem nos seus desvarios, chegando mesmo a exagerá-los, como o fazem alguns desgraçados Espíritos, a prece nada pode e nada poderá, senão no dia em que um clarão de arrependimento se produza neles.


Não se deve perder de vista que o Espírito não se transforma subitamente, após a morte do corpo. Se viveu vida condenável, é porque era imperfeito. Ora, a morte não o torna imediatamente perfeito. Pode, pois, persistir em seus erros, em suas falsas opiniões, em seus preconceitos, até que se haja esclarecido pelo estudo, pela reflexão e pelo sofrimento.


A expiação se cumpre, durante a existência corporal, mediante as provas a que o Espírito se acha submetido e, na vida espiritual, pelos sofrimentos morais inerentes ao estado de inferioridade do Espírito.


Não basta o arrependimento sincero durante a vida para que as faltas do Espírito se apaguem e ele ache graça diante de Deus. O arrependimento concorre para a melhoria do Espírito, mas ele tem que expiar o seu passado.


Já desde esta vida poderemos ir resgatando as nossas faltas, reparando-as. Mas não devemos crer que as resgataremos mediante algumas privações pueris, ou distribuindo em esmolas o que possuirmos, depois que morrermos, quando de nada mais precisaremos. Deus não dá valor a um arrependimento estéril, sempre fácil e que apenas custa o esforço de bater no peito. A perda de um dedo mínimo, quando se esteja prestando um serviço, apaga mais faltas do que o cilício suportado durante anos, com objetivo exclusivamente pessoal. 


Só por meio do bem se repara o mal, e a reparação nenhum mérito apresenta se não atinge o homem nem no seu orgulho, nem nos seus interesses materiais.


Assegurar, para depois de nossa morte, emprego útil aos bens que possuímos é melhor do que nada. A desgraça, porém, é que aquele que só depois de morto dá é quase sempre mais egoísta do que generoso. Quer ter o fruto do bem, sem o trabalho de praticá-lo. Duplo proveito tira aquele que, em vida, se priva de alguma coisa: o mérito do sacrifício e o prazer de ver felizes os que lhe devem a felicidade. Mas lá está o egoísmo a dizer-lhe: O que dás tiras aos teus proveitos. Então, como o egoísmo fala mais alto do que o desinteresse e a caridade, o homem guarda o que possui, pretextando suas necessidades pessoais e as exigências da sua posição.


O arrependimento daquele que, chegando a hora da morte, reconhece suas faltas, quando já não tem tempo de as reparar, lhe apressa a reabilitação, mas não o absolve. Diante dele se desdobra o futuro, que jamais se lhe fecha.



Referências:

O Livro dos Espíritos - Quarta Parte - Cap. II - Allan Kardec.

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