Aprendemos somente através do que ouvimos passivamente? Em termos comportamentais, o que caracteriza um efetivo aprendizado? No que consiste o processo de aquisição de experiências? Por que erramos? Perante os próprios erros, qual a postura mais adequada para a devida superação? Em termos de aprendizagem, do que precisamos, urgentemente, nos conscientizar?
Aprendizado – ou aprendizagem – trata-se de uma “denominação geral dada a mudanças permanentes de comportamento como resultado de treino ou experiência anterior.” [1]
A vida é um processo de gradativa aprendizagem em vários aspectos, tais como: moral, intelectual, emocional e espiritual. E só aprendemos fazendo. Nada se aprende só de ouvir falar, passivamente. Aprende-se matemática, por exemplo, buscando solucionar os mais diversos e intrincados exercícios dessa matéria. Do mesmo modo, aprende-se uma virtude, praticando-a, vivenciando-a no dia a dia.
O Espírito André Luiz adverte: “Precisamos demonstrar aproveitamento prático das lições recebidas.” [2]
Não basta saber apenas intelectualmente; as informações apreendidas necessitam balizar o comportamento. São as nossas atitudes, portanto, que demonstram o que verdadeiramente já conseguimos assimilar dos conteúdos de aprendizagem a que nos submetemos ou pelos quais optamos adquirir.
Na questão 634, de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec questiona :
“Por que o mal está na natureza das coisas. Eu falo do mal moral. Deus não poderia criar a Humanidade em melhores condições?”
Resposta:
“Já te dissemos: os Espíritos foram criados simples e ignorantes (115). Deus deixa ao homem a escolha o caminho; tanto pior para ele, se toma o mau: sua peregrinação será mais longa. Se não houvesse montanhas, o homem não poderia compreender que se pode subir e descer, e se não houvesse rochedos, ele não compreenderia que há corpos duros. É preciso que o Espírito adquira experiência e, para isso, é preciso que ele conheça o bem e o mal. Por isso, há a união do Espírito e do corpo.” [3]
Conforme os postulados espíritas, o espírito, qual criança, é inexperiente nas primeiras fases de sua trajetória e, daí, ser ainda bastante falível. Deus não lhe dá o conhecimento do bem e do mal, do certo e do errado, mas proporciona-lhe os meios para adquirir tal experiência. Cada espírito, porém, o faz da sua própria maneira e no ritmo que julga mais apropriado. No que consiste, então, esse processo de aquisição de experiências? De acordo com o Espírito Emmanuel,
... a luta e o trabalho são tão imprescindíveis ao aperfeiçoamento do espírito, como o pão material é indispensável à manutenção do corpo físico. É trabalhando e lutando, sofrendo e aprendendo, que a alma adquire as experiências necessárias na sua marcha para a perfeição. [4]
Demos um “passo em falso e caímos”? Isso, certamente, possibilitou-nos descobrir o que não sabíamos! Toda aprendizagem ocorre por meio de erros e acertos, tentativas frustradas ou não. Derrota e vitória, circunstâncias felizes ou infelizes são passos importantes em nossa trajetória de espíritos imortais, desde que percebamos o quanto elas têm para nos ensinar.
Para a adequada condução de nosso processo evolutivo, torna-se imprescindível que os erros não nos induzam ao abatimento, à paralisação e à autocondenação. Em sua sistemática instrutiva, não nos convém considerá-los como algo definitivo e irreparável. Na realidade, eles apenas representam fatores de atingimento de níveis mais profundos de aprendizado. Se erramos, consciente e objetivamente, procuremos: superar o próprio mal-estar; com perseverança, buscar alternativas para a solução do problema ou a amenização das consequências do engano; não nos envolver na revolta, porque esta agrava ainda mais a situação; e, por fim conscientizar-nos de que a descrença em nossa capacidade de superação e o desânimo significam, tão-somente, a perda de um tempo valiosíssimo.
Os problemas e os contratempos são como os tijolos. Ao lidarmos com cada um deles, reorganizamo-nos, crescemos, aprendemos mais um pouco a respeito da vida, de nós mesmos, das outras pessoas e, com isso, construímos patamares mais elevados de experiência pessoal.
Paz íntima, equilíbrio, bem-estar, discernimento, firmeza e competência nas escolhas e atitudes são conquistas gradativas. Toda aprendizagem requer aplicação prática, repetência (isto é, fazer várias vezes), paciência, disposição, para que, paulatina e definitivamente, as qualidades superiores se fixem na personalidade. Por isso, o espírito Joanna de Ângelis enfatiza:
Tua tarefa é de sublimação interior no dia a dia. Para quem sabe discernir, cada dia guarda uma lição; cada lição é mensagem de experiência; cada experiência significa aprendizado; cada aprendizado representa bênção e cada bênção traduz oportunidade evolutiva. [5]
Pessoas existem que somente se empenham com aquilo que possa lhes trazer imediatas satisfações. Outras ficam na contemplação do que precisam e devem fazer, sem se animarem, de fato, com nada. Sem dizer daquelas que julgam não ter mais nada a aprender, porque, em sua autossuficiência, não reconhecem as próprias limitações. Todavia, a grande maioria embaraça-se na própria ignorância (falta de conhecimento), pois falta a esses indivíduos a devida vontade de estudar, de divisar novos horizontes e de repensar a própria história. Daí a instrução dos Espíritos Superiores, em O Evangelho segundo o Espiritismo: “Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo.” [6]
De tudo o que existe no universo, de tudo o que envolve a realidade material e espiritual, ainda temos muito a descobrir! E um dos maiores objetivos da presente encarnação é, justamente, a vivência do máximo número de aprendizagens, a fim de realizarmos o aprimoramento a que nos propomos quando ainda estávamos na erraticidade. Estar aqui, no planeta Terra, segundo Carlos Torres Pastorino, carrega uma responsabilidade da qual urge nos conscientizemos:
Convença-se de que o mundo não é um parque de recreio: é um ambiente de trabalho!
Não é um feriado que nos tenha sido dado para repousar, mas um curso de aprendizado intensivo.
Procure, pois, aprender o máximo, aplicando à sua vida o maior mandamento: ame a todos indistintamente, e verá a felicidade morar dentro de seu coração.
Viva, dando um exemplo vivo de amor, em todas as suas ações. [7]
Se observarmos a história de homens e mulheres que se sobressaíram em inteligência e moral, constataremos que a curiosidade, o desafio e as incessantes buscas representaram-lhes relevantes fatores de estímulo. Quanto mais sabiam, mais queriam descobrir, mais buscavam alcançar, mais venciam a mesmice. Dora Incontri, ao discorrer sobre a importância do cultivo da vontade de aprender, defende que esta:
- está diretamente ligada à criatividade. Trata-se de saber extrair de cada circunstância, de cada momento existencial, de cada fato observado, lições e reflexões. Estar em permanente estado de indagação e curiosidade é o oposto da preguiça mental, da acomodação intelectual.
Como todos os atributos morais e intelectuais do Espírito têm conexão entre si, a vontade de aprender está ligada com certas virtudes morais: perseverança, ânimo firme, autodisciplina. Para vencer os obstáculos exteriores e internos, a vontade de progredir intelectualmente tem de se alicerçar numa vontade firme de progresso espiritual, de vencer as próprias limitações e superar qualquer barreira. Se a curiosidade intelectual não estiver enraizada na vontade moral, ela murcha à beira da estrada e não produz frutos proveitosos. [8]
Todas as dificuldades que enfrentamos e lutas morais que travamos são decorrentes da necessidade de aprendizados mais profundos e consistentes. Se algo desagradável nos acontece duas ou mais vezes, torna-se fundamental, de nossa parte, uma reflexão mais acurada, pois tais circunstâncias significam lições que não podemos desconsiderar, porque toda experiência carrega em si oportunidades de libertação de conflitos e limitações e, por conseguinte, de amadurecimento.
Silvia Helena Visnadi Pessenda
REFERÊNCIAS
[1] MICHAELIS: moderno dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Companhia Melhoramentos, 1998.
[2] ANDRÉ LUIZ (espírito); XAVIER, Francisco Cândido (psicografado por). Missionários da luz. 31. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1999. Cap. 20. p. 312.
[3] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Salvador Gentile, revisão de Elias Barbosa. 100. ed. Araras, SP: IDE, 1996.
[4] EMMANUEL (espírito); XAVIER, Francisco Cândido (psicografado por). O Consolador. 16. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1993. q. 131.
[5] ÂNGELIS, Joanna de (espírito); FRANCO, Divaldo Pereira (psicografado por). Espírito e vida. Salvador, BA: Livr. Espírita Alvorada. Cap. 44. p. 79.
[6] KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Salvador Gentile, revisão de Elias Barbosa. 195. ed. Araras, SP: IDE, 1996. Cap. VI. Item 5.
[7] PASTORINO, Carlos Torres. Minutos de sabedoria. 41. ed. Petrópolis, RJ: Editora Vozes. Cap. 176.
[8] INCONTRI, Dora. A educação segundo o Espiritismo. 5. ed. Bragança Paulista, SP: Editora Comenius, 2003. Cap. XVII. p. 170-171.
[9] EMMANUEL (espírito); XAVIER, Francisco Cândido (psicografado por). Fonte viva. 12. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira. Cap. 102.
HAMMED (espírito); SANTO NETO, Francisco do Espírito (psicografado por). As dores da alma. 1. ed. Catanduva, SP: Boa Nova Editora, 1998.