Além da cela em que te enclausuras, alimentando as vitórias dos  sofrimentos que crias entre sombras mentais, o trabalho socorrista espera  braços para acionarem a alavanca da oportunidade, em favor de outros mais  necessitados do que tu mesmo, que não podem parar nos degraus da lamentação.

Eles passam pela vida entre soluços e provações, a que desde cedo  se encontram vinculados.

Dirás, no entanto, que eles já se acostumaram e que as dores que  te laceram são insuportáveis.

Ignoras, certamente, a dor de uma mãe viúva e enferma sustentando  em braços fracos o filho misérrimo e esfaimado; não sabes o desgosto  profundo que experimenta um pai envelhecido que a tirania dos filhos jovens  atirou à sarjeta e ao abandono; desconheces o sinal da orfandade, desde as  primeiras horas nas ruas do desconforto, em forma de complexos e recalques  malsinantes; desconheces os punhais invisíveis das dores morais que  despedaçam o coração e mil outros angustiantes golpes com que o pretérito  culposo pune no presente os infratores da Lei...

Ameniza tuas provações ajudando outros sob a dolorosa cruz de  provações sem nome.

Há fome de amor perto do teu leito de queixas.

Levanta-te da inércia a que te vinculas impensadamente e aciona a  máquina da beneficência.

 -o-

A palavra de acolhimento fraternal que endereças a alguém é raio  de sol na direção da vida.

A reprimenda que silencias se converte em reservas de piedade a  teu próprio favor.

Todos somos imperfeitos em luta titânica pela ascensão aos páramos  da luz.

Quantos bens se demoram encurralados em tuas mãos e quantas  oportunidades te passam improdutivas?!

Acompanha a viagem da semente em transformações incessantes até  uma nova semente.

Segue a jornada de uma moeda perdida na ociosidade do teu cofre e  consigna os bens que pode espalhar quando dirigida pelos poderes da  caridade.

Aplica o minuto do repouso indébito e desnecessário, edificando  algo bom em alguém ou para alguém, e as noites do desassossego fulgirão com  os lampejos das estrelas do teu esforço clareando caminhos.

 Muitas dores são filhas da ociosidade.

 Diversos males descendem da ignorância dos males reais.

 Múltiplas enfermidades desenvolvem-se na madre da inutilidade.

 Vidas vazias são colunas belas e decoradas sem base nem utilidade,  dispensáveis e frágeis.

 A auto piedade pode ser comparada à hera constringente que  despedaça a frincha em que se apóia...

Lá fora, além da cela do teu isolacionismo, está fazendo sol e  Jesus, hoje como outrora, esquecido de si mesmo e das ingratidões dos homens  e do mundo está recolhendo corações para a lavoura do amor.

Deixa-te inundar da poderosa mensagem da luz e vencerás as sombras  do pessimismo e da nostalgia que te vencem desapiedadamente, fazendo-te  entender, porque para quem ama sempre “está fazendo sol.”

Joanna de  Ângelis

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