Quem é Jesus para nós? Como vemos esse homem tão especial, cujos ensinamentos se transformaram numa doutrina capaz de se alastrar pelo mundo e mudar o pensamento humano? Como o sentimos nas nossas vidas? Um mestre? Um messias? Um modelo? Um ser espiritual angélico? Um deus feito homem? Um profeta? Apenas um homem bom, portador de enorme empatia, capaz de arrastar multidões e fazer prevalecer as suas ideias? Um milagreiro? Um mito?
Se saíssemos por aí perguntando a quem passa se acredita em Jesus e como o vê, muitas e variadíssimas respostas iriamos obter. Mesmo entre aqueles que se consideram crentes verdadeiros no Cristianismo, a forma como encaram a personagem central das suas crenças é, na maioria das vezes, bastante pouco concreta e pouco fundamentada.
Fomos habituados ao longo dos séculos, em que as religiões mais tradicionais dominaram, a ver Jesus como a segunda pessoa de uma trindade divina (Pai, Filho e Espírito Santo), cujo sentido não conseguimos entender, e que sempre nos disseram ser um mistério que não nos é dado questionar. Dogma de fé que o crente não deve pôr em causa, simplesmente aceitar. No entanto, à medida do progresso da mente humana, vai sendo cada vez mais difícil aceitarmos dogmas de fé; vamo-nos fazendo mais exigentes. Para tudo nos vamos habituando a raciocinar, a procurar entender e a só aceitar o que a razão alcança e entende como correto. É normal e justo que assim seja. Por esse facto é que a evolução intelectual sempre se faz mais rápida que a evolução moral. Os avanços do intelecto são um recurso valioso para aprendermos a discernir entre o bem e o mal, entre o certo e o errado, entre o verdadeiro à luz da razão e o mitológico.
Importa então desmistificar a ideia de um Jesus-deus. Sempre Ele se referiu a Deus como o Pai. Jamais se apresentou como uma parcela Dele, seja lá o que isso possa significar. O Espiritismo, ao surgir apresentando-se como o Consolador Prometido por Jesus, surge-nos fundamentado em dois aspetos essenciais e profundamente interligados: a revelação dos Espíritos e o discernimento conseguido pelo raciocínio. Estes dois fundamentos estão de tal modo interligados que os Espíritos não se cansaram de insistir na importância de só aceitarmos o que a razão consiga entender como verdadeiro. É sempre apelando à razão que Kardec, ao longo da Codificação, nos vai fazendo, passo a passo, chegar às verdades espirituais. A Doutrina Espírita, em suma, é a Doutrina da fé raciocinada.
Como tal, o Espiritismo vem-nos dar a conhecer um Jesus bastante diferente daquele a que estávamos habituados. Ao demonstrar, à luz da razão e da revelação, que Deus criou todos os seus filhos simples e ignorantes, sujeitos à Lei de Progresso, que funciona para todos dentro dos mesmos parâmetros e nos mesmos moldes, ao fazer-nos perceber que todos se destinam à mesma perfeição relativa, que se vai conseguindo paulatinamente, à medida dos nossos esforços em nos moralizarmos e em crescermos em sabedoria, que isso só se consegue à custa de numerosas reencarnações, nos diferentes mundos da Criação, que nos permite os reajustes necessários, à custa de provas e expiações, enfim, ao demonstrar que as regras são as mesmas para todos os filhos de Deus, deixa completamente de lado que haja filhos especiais, já criados perfeitos, e outros que tenham de lutar, à custa da dor, pela almejada perfeição.
Passamos a ver e compreender Jesus como um de nós, alguém que foi criado como nós e que atingiu a perfeição ao longo dos tempos, à custa de sacrifícios, de renúncias, através de reencarnações que o foram impulsionando ao progresso espiritual. É apenas alguém que nasceu muito antes de nós, e que, quando nós próprios fomos criados, já Ele tinha atingido o estado de Espírito Puro, tornando-se cocriador com o Pai. Como Ele mesmo disse: “Quando este mundo foi criado já Eu estava à direita do Pai”, ou seja, como costumamos dizer, já Ele era Sua mão direita, já trabalhava na equipa divina, presidindo aos destinos deste nosso planeta, na altura, em início de criação.
É neste sentido que consideramos valer a pena debruçarmo-nos um pouco sobre a forma como o Espírito Joanna de Ângelis nos apresenta Jesus. Joanna de Ângelis é a Mentora Espiritual do médium Divaldo Pereira Franco, através de quem se manifesta, como autora espiritual de um número considerável de obras de alto valor. Nomeadamente, as integradas na denominada Série Psicológica, em que estabelece conexões entre a Psicologia Espírita e a Psicologia Analítica de Carl Jung.
Recorrendo à visão e análise dessa veneranda entidade, que numa de suas reencarnações chegou a conhecer Jesus e a tomar contacto com os Seus ensinamentos, tornando-se cristã e testemunhando a sua Fé pelo martírio, vamos encontrar um Jesus-homem, entre os homens, destacando-se pelo alto grau de moralização, mas mantendo as suas caraterísticas humanas, oferecendo-se como modelo de comportamento capaz de ser motor de mudança e progresso. Fiquemos, para nossa reflexão, com algumas das suas considerações sobre o Mestre Amado que procuramos seguir, e sobre a Sua mensagem que, mais do que nunca, termos de aprender a admirar e, principalmente, seguir:
“Jesus é o mais notável Ser da História da Humanidade.”
“Vivendo numa época em que predominava a ignorância em forma de sombra individual e coletiva, qual ocorre também nestes dias, embora em menor escala, Jesus cindiu o lado escuro da sociedade das criaturas, iluminando as consciências com a proposta de libertação pelo conhecimento da Verdade e integração nos postulados soberanos do amor.”
“O Evangelho é o mais belo poema de esperanças e consolações de que se tem notícia. Concomitantemente, é precioso tratado de psicoterapia contemporânea para os incontáveis males que afligem a criatura e a Humanidade.”
“Superior às conjunturas que defrontava pelo caminho e incólume às tentações do carreiro humano, por havê-las superado anteriormente, apegou-se sem diminuir a própria grandeza, misturando-se ao poviléu, e destacando-se dele pelos grandiosos atributos da Sua Realidade espiritual.”
“Ele é todo harmonia que cativa e arrebata as multidões.”
”Jesus, o Homem excelente, chegou à Terra e defrontou a ignorância em predomínio, trazendo a mensagem de amor que jamais fora apresentada antes na formulação de que Ele se fazia portador.”
”Todos os objetivos da Boa-nova que Ele trouxe centram-se no futuro do Espírito, na sua emancipação total, na sua incessante busca de Deus.”
“Só o amor, conforme ensinou e viveu o Cristo – manjar divino e preciosa linfa – resolverá os magnos e angustiantes tormentos humanos.”
“Jesus não foi o biótipo de legislador convencional. Ele não veio submeter a Humanidade nem submeter-se às leis vigentes. Era portador de uma revolução que tem por base o amor na sua essencialidade mais excelente e sutil, e adotado transforma os alicerces morais do indivíduo e da sociedade.”
“Em razão desse limite de entendimento (o nosso), o Homem-Jesus evitou aprofundar as lições libertadoras, oferecendo aquela que é essencial e está sintetizada no amor sob todos os pontos de vista considerado, preparando o advento de uma futura Nova Era, que se apresentaria através da expansão dos fenómenos mediúnicos, com o advento da Psicologia Espírita defluente da Doutrina codificada por Allan Kardec.”
“O rumo que Ele nos aponta continua indicando liberdade. As amarras foram construídas por cada qual, para a própria escravidão espiritual. Diante de tais considerações, no bárbaro dos tormentosos dias, convém consultar Jesus, sem cessar. E, se tiveres ouvidos capazes de escutar discernindo, percebê-lo-ás a repetir: Eu sou o Caminho: Vinde a mim!.”
Já vai algo extensa a lista de referências. Mas muitas mais poderíamos apresentar, de igual importância e valor para a análise que pretendemos. Não vamos acrescentar as nossas considerações ou interpretações pessoais, para que não haja entrave às reflexões que desejamos que cada um faça, tendo como base a visão da veneranda Mentora. Apenas gostaríamos de acrescentar, como lembrança final, que, tal como Joanna nos assevera, “Nosso guia seguro continua sendo Jesus.”
Faz todo o sentido que a nossa conclusão seja também ela uma citação de Joanna de Ângelis, fazendo nosso o seu desejo:
“Esperando que a contribuição, que ora apresentamos ao caro leitor, possa despertar estudiosos da Psicologia Profunda para atualização dos ensinamentos de Jesus, e aprofundamento das questões por Ele abordadas, rogamos-lhe, na condição de nosso Amigo Inconfundível e Terapeuta Excelente que é, que nos inspire e guarde na incessante busca do autoburilamento e da autoiluminação, que nos são necessários.”
Bibliografia:
Celeiro de Bênçãos, de Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Franco; Livraria Espírita “Alvorada” Editora, 1983.
Jesus e o Evangelho à Luz da Psicologia Profunda, de Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Franco; FEP, 2014.
Após a Tempestade, de Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Franco; FEP, 2016.
por Maria de Lurdes Duarte
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