Os cometas são astros errantes, ainda mais do que os planetas, que conservaram a denominação etimológica.
Eles são os guias que nos ajudarão a transpor os limites do sistema a que pertence a Terra e nos levarão às regiões longínquas da extensão sideral.
Alguns hão visto, nesses astros dotados de cabeleira, mundos nascentes, a elaborarem, no primitivo caos em que se acham, as condições de vida e de existência, que tocam em partilha às terras habitadas; outros imaginaram que esses corpos extraordinários eram mundos em estado de destruição e, para muitos, a singular aparência que têm foi motivo de apreciações errôneas acerca da natureza deles, isso a tal ponto que não houve, inclusive na astrologia judiciária, quem não os considerasse como pressagiadores de desgraças, enviados, por desígnios providenciais, à Terra, espantada e tremente.
Os cometas são astros errantes, que servem de exploradores aos impérios solares. Porque, os corpos celestes de que tratamos são coisa muito diversa dos corpos planetários; não têm por destinação, como estes, servir de habitação a humanidades. Vão sucessivamente de sóis em sóis, enriquecendo-se, às vezes, pelo caminho, de fragmentos planetários reduzidos ao estado de vapor, haurir, nos focos solares, os princípios vivificantes e renovadores que derramam sobre os mundos terrestres.
Se, quando um desses astros se aproxima do nosso pequenino globo, para lhe atravessar a órbita e voltar ao seu apogeu, situado a uma distância incomensurável do Sol, o acompanhássemos, pelo pensamento, para visitar com ele as províncias siderais, transporíamos a prodigiosa extensão de matéria etérea que separa das estrelas mais próximas o Sol e, observando os movimentos combinados desse astro, que se suporia desgarrado no deserto infinito, ainda aí encontraríamos uma prova eloquente da universalidade das leis da natureza, que atuam a distâncias que a mais ativa imaginação mal pode conceber.
Aí, a forma elíptica toma a forma parabólica e a marcha se torna tão lenta que o cometa não chega a percorrer mais que alguns metros, no mesmo tempo durante o qual, em seu perigeu, percorria muitos milhares de léguas. Talvez um sol mais poderoso, mais importante do que o que ele acaba de deixar, exerça sobre esse cometa uma atração preponderante e o receba na categoria de seus súditos. Então, na vossa pequenina Terra, em vão as crianças espantadas lhe aguardarão o retorno, que haviam predito, baseando-se em observações incompletas. Nesse caso, nós, que pelo pensamento acompanhamos a essas regiões desconhecidas o cometa errante, depararemos com uma nação nova, que os olhares terrenos não podem encontrar, inimaginável para os Espíritos que habitam a Terra, inconcebível mesmo para as suas mentes, porquanto ela será teatro de inexploradas maravilhas.
Chegamos ao mundo astral, nesse mundo deslumbrante dos vastos sóis que irradiam pelo espaço infinito e que são as flores brilhantes do magnífico jardim da criação. Lá chegados, apenas saberemos o que é a Terra.
Referências:
A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo - Cap. VI - Allan Kardec.