Apesar do nome tradicional atribuído à belíssima e esclarecedora metáfora de Jesus, “Parábola do Filho Pródigo”, talvez fosse interessante chamá-la, para fins didáticos, “Parábola dos Dois Filhos”, ou algo que o valha (poderíamos ousar sugerir “Parábola do Filho Pródigo e do Filho Obediente”), destacando também o papel do filho tradicionalmente menos comentado e estudado.
Essa sugestão é baseada em uma reflexão muito simples: na verdade, ora agimos como o filho pródigo, ora agimos como o filho obediente. Portanto, “somos os dois filhos”, tendendo, a cada momento que passa, para um ou outro lado, dependendo dos nossos valores espirituais, do contexto de vida que enfrentamos e do que estamos sentindo em relação à vida em cada instante, sobretudo em relação a nós mesmos e a nosso irmão.
Quando desperdiçamos oportunidades evolutivas, o que acontece quase sempre, e sentimo-nos necessitados do amparo da Misericórdia Divina, identificamo-nos facilmente com o Filho Pródigo, e ficamos contentes em reconhecer que “quando ainda estava longe, o Pai correu em direção a ele e o abraçou”, simbolizando a aceitação e o acréscimo de Misericórdia que recebemos após cada queda espiritual. Trata-se de um bem-estar semelhante àquele que sentimos quando ouvimos o famoso “Vinde a mim todos vós que estais sobrecarregados e Eu vos aliviarei”. Isso ocorre porque ainda somos, na grande maioria, Espíritos muito endividados e com sérias dificuldades espirituais.
Por outro lado, infelizmente, não apresentamos a mesma alegria quando notamos que a Providência Divina auxiliou a nosso irmão, ou seja, que nosso irmão é que, em determinado momento, está sendo o Filho Pródigo do referido contexto. Dessa forma, é comum agirmos como o “Filho obediente”, apesar de não termos, frequentemente, o hábito de perceber a identificação do comportamento apresentado com o filho que fica na casa paterna. Realmente, todas as vezes que nos colocamos na postura de indivíduos relativamente íntegros e que não estamos tendo “sorte na vida”, questionando os supostos benefícios que nosso irmão, a priori menos merecedor, tem recebido, estamos agindo como o “Filho Censor”, conforme adjetivação proposta por Emmanuel em “Palavras de Vida Eterna”. De fato, quando outras pessoas, que apresentam postura espiritual em princípio menos elevada que a nossa, recebem oportunidades interessantes de refazimento espiritual, temos dificuldades em aceitar o fato com alegria.
A famosa Parábola nos ensina muito a respeito da necessidade de ajudar o Pai no auxílio a irmãos mais carentes de apoio espiritual, sem nenhuma manifestação de ciúme ou inveja propriamente considerada. Até porque, por várias oportunidades, temos precisado e continuaremos, por muito tempo, a precisar, da misericórdia de Deus para que desfrutemos de novas oportunidades que não fazemos jus pelos nossos atos. É o chamado “Acréscimo de Misericórdia”, do qual todos nós somos, vez por outra, necessitados e beneficiários.
O Apóstolo Paulo afirma “Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram” e Emmanuel comenta tal versículo em “Palavras de Vida Eterna”, inferindo que é mais fácil chorar com os que choram do que se alegrar com os que se alegram. Entretanto, precisamos das duas atitudes para evoluir, pois ambas caracterizam diferentes manifestações da caridade. Ensina-nos nosso Benfeitor Emmanuel na supracitada obra: “não te envaideças por ser bom, pois se Deus permitiu estares com Ele é para que estejas com Ele ajudando a teu irmão”. O verdadeiro Amor fica feliz com a felicidade e com as oportunidades ofertadas a nossos irmãos.
Dessa forma, em nossos exercícios diários de Autoconhecimento, procuremos analisar nosso comportamento, ora de “Filho Pródigo”, ora de “Filho Obediente”, a fim de diminuirmos nossas quedas, cumprindo cada vez mais a vontade do Pai, mas também para amar mais aqueles irmãos que ainda estão distantes de procurar o cumprimento de seus próprios deveres para com a Consciência individual, que representa a Lei Cósmica dentro de nós.
LEONARDO MARMO MOREIRA