Vivemos uma época assinalada por duas significativas realidades: o desenvolvimento científico e tecnológico e o vazio existencial. As conquistas científicas e tecnológicas propiciam melhor qualidade de vida com os avanços no campo da saúde, alimentação, energia, comunicação, acesso ao conhecimento, entre outros. Em contraposição, o vazio existencial aparece no cenário das relações interpessoais, expressando-se como uma sensação de perda do sentido existencial que, em maior grau conduz a crises depressivas e, não raro, ao suicídio. Tais constatações merecem do venerável Bezerra de Menezes as seguintes ponderações dirigidas aos espiritas: “[…]. Naturalmente, essa manifestação de fuga da realidade interfere no comportamento geral dos seareiros da Verdade que, nada obstante, considerando serem servidores da última hora, permitem-se os desvios que lhes diminuem a carga aflitiva.” 1
Os tempos atuais são marcados por conflitos e entrechoques nas relações humanas, mais ou menos acentuados em diferentes partes do Planeta: atos de heroísmo e solidariedade e crimes hediondos; indiferentismo, com fuga da realidade, diante de doenças que têm conduzido milhares de pessoas à morte, e ações beneméritas, de onde menos se espera, destinadas a amenizar o sofrimento existente; manifestações ideológicas exacerbadas de pessoas e grupos, político-partidárias ou não, mescladas por vozes contrárias, que promovem paz e a concórdia; manifestações religiosas imprudentes, voltadas para a prática do igrejismo e registros responsáveis que apontam para as consequências espirituais das escolhas humanas, sobretudo as que valorizam o amor a Deus e ao próximo. Neste sentido, o benfeitor Emmanuel, aconselha-nos adotarmos um comportamento mais proativo, e, como medida de harmonia espiritual, propõe lançarmos um olhar mais além, de contemplar mais longe:
Transfere a observação para o teu campo de experiência diária e não olvides que as situações externas serão retratadas em teu plano interior, segundo o material de reflexão que acolhes na consciência. Se perseverares na cólera, todas as forças em torno te parecerão iradas. Se preferes a tristeza, anotarás o desalento, em cada trecho do caminho. Se duvidas de ti próprio, ninguém confia em teu esforço. Se te habituaste às perturbações e aos atritos, dificilmente saberás viver em paz contigo mesmo.
Respirarás na zona superior ou inferior, torturada ou tranqüila, em que colocas a própria mente. […].2
Não resta dúvida que o denominado mundo atual é complexo, volátil, pleno de desafios como assinala o psicanalista brasileiro, Marcio de F. Giovannetti, presidente da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo:
Se há algo que permanece hoje em nosso mundo é a idéia de pós. Tudo o mais parece extremamente provisório. A palavra atual parece significar hoje e apenas hoje. Aqui e agora. Ou melhor, apenas agora, pois a própria idéia de “aqui” é absolutamente questionável diante da internet ou de um aparelho de televisão.
[…]
Em uma palavra, poderíamos dizer que o que há de mais característico no mundo de hoje é o desaparecimento da permanência. Tudo se volatiliza. Tudo é descartável. Mas, paradoxalmente, há um aumento da expectativa do tempo da vida humana. Quanto mais tempo vive o homem, menor o tempo de cada uma de suas coisas, sejam elas artefatos, produções culturais ou conceitos científicos. Ser estranho esse, o homem…3
Compreender a diversidade existente no mundo, conhecer e respeitar opiniões diferentes — ainda que contrários ao próprio entendimento — são desafios da vida em sociedade, sobretudo quando acontecem no ambiente familiar ou profissional. Assim, no processo de autoiluminação, faz-se necessário buscar o autodomínio, esforçando-se em manter relacionamentos saudáveis e verdadeiros com as pessoas que fazem parte do nosso convívio social, aprendendo a lidar com as divergências de forma respeitosa, sem da emissão de juízos de valor. Joanna de Ângelis oferece-nos oportunas orientações a respeito:
Em teu esforço de autoiluminação, tem em vista que a paciência, é fator primordial para o êxito.
[…]
No exercício da paciência, faz-se imprescindível o autocontrole que demonstra a eficácia da ciência da paz.
[…]
Persevera naquilo que crês, pois sabes que o amor é a única solução para todas as dificuldades humanas. O que não conseguires hoje, lograrás amanhã, se souberes permanecer firme e sem desalento. 4
Antes os conflitos do mundo atual, afirma Bezerra de Menezes, “[…] é natural que surjam divergências, opiniões variadas, procurando melhor metodologia para o serviço da Luz. O direito de discordar, de discrepar, é inerente a toda a consciência livre. Mas, tenhamos cuidado para não dissentir, para não dividir, para não gerar fossos profundos ou abismos aparentemente intransponíveis.” 5 E conclui com bondade:
Que o Espírito de união, de fraternidade, leve-nos todos, desencarnados e encarnados, à pacificação […].
O amor é o instrumento hábil para todas as decisões. Desarmados os corações, formaremos o grupo dos seres amados do ideal da Nova Era.
[…].
Nunca olvidemos, em nossas preocupações, que a Barca terrestretem um Nauta que a conduz com segurança ao porto da paz. 5
REFERÊNCIAS
- FRANCO, Divaldo Pereira. Momento decisivo. Mensagem psicofônica de Bezerra de Menezes, proferida no encerramento da Reunião Ordinária do Conselho Federativo Nacional. Brasília, 9/11/2014. In: Reformador. Ano 132. N0 Dezembro de 2014, p.8-9.
- XAVIER, Francisco Cândido. Pão nosso. Pelo Espírito Emmanuel. 1 ed. 17 imp. Brasília: FEB, 2020. 72, p. 157-158.
3. GIOVANETTI, Márcio F. CIÊNCIA E CULTURA. Cienc. Cult. vol.55 no.4 São Paulo Oct./Dec. 2003. SBPC-Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Universidade Estadual de Campinas: Campinas, 2021. http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252003000400003
- FRANCO, Divaldo Pereira. Vidas vazias. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 1 ed. 2 imp. Salvador: LEAL, 2020.Cap. 14, p.109-110.
- FRANCO, Divaldo Pereira. Momento decisivo. Mensagem psicofônica de Bezerra de Menezes, proferida no encerramento da Reunião Ordinária do Conselho Federativo Nacional. Brasília, 9/11/2014. In: Reformador. Ano 132. N0 Dezembro de 2014, p.9.