Prever a hora final da humanidade não é de hoje. Inúmeros falsos profetas amedrontaram as multidões em todos os tempos, e com isso só conseguiram provocar tragédias. Além de errar vergonhosamente todas as previsões, é claro. Terremotos, furacões e tsunamis costumam lembrar os sinais precursores previstos no Apocalipse, servindo de justificativa aos charlatões.
Atualmente, esses adivinhos de araque aproveitam-se da credibilidade da ciência e misturam previsões catastróficas com dados pseudocientíficos. Porém, bastam alguns anos e as previsões são desmentidas, os profetas escolhem novas datas e começa tudo de novo!
O fim do planeta Terra segundo a ciência
Há para a ciência um fenômeno que certamente aniquilará o planeta Terra: a expansão do Sol. Ele está fundindo núcleos de hidrogênio em hélio. Como existe uma quantidade limitada desse gás, aos poucos ele está diminuindo sua temperatura, até que um dia ele vai se expandir e engolir nosso planeta. Mas é fundamental avisar que isso só vai acontecer daqui a 5 bilhões de anos!
A ameaça vem da ganância, do orgulho, do egoísmo
E o que poderíamos dizer sobre o fim do mundo segundo o espiritismo? Há 150 anos, os espíritos da codificação já previam os rumos da humanidade, afirmando: “Não olhem para o céu em busca dos sinais precursores, porquanto nenhum verá, e quem os anunciar estará a enganá-los. Olhai em torno de vós, entre os homens: aí é que os descobrirão” (Revista Espírita de 1862).
Desde aquela época, século 19, toda miséria e sofrimento foram criados pelo próprio homem. Sonhava-se com as máquinas trazendo riquezas e tecnologia trazendo felicidade, liberdade e progresso para a humanidade. No entanto, como a grande massa trabalhadora não tinha instrução, recursos e regras para exercer a tal liberdade, o resultado de dois séculos dessa prática foi: de um lado, miséria, fome, sofrimento; de outro, riqueza acumulada para uma minoria, poluição, desperdício e violência. Estamos acabando com o ar e os rios; as terras estão sendo envenenadas com agrotóxicos; a atmosfera, sendo afetada pela ação deliberada do homem moderno. Segundo cientistas, o futuro é triste e sombrio. A verdadeira ameaça saiu da própria ganância, orgulho e egoísmo do próprio homem, aqui na Terra mesmo.
Esses mesmos Espíritos avisaram sobre as consequências da ganância: “Não sentis que uma espécie de vento sopra sobre a Terra e agita todos os espíritos? O mundo se acha na expectativa e como que presa de um vago pressentimento de que a tempestade se aproxima”, explicaram em Obras póstumas.
Crise existencial
O tempo passou e hoje ninguém mais está satisfeito com esse jeito de viver. Nem o rico e nem o pobre estão seguros. Uma revolução está para acontecer a qualquer momento. Mas não será uma ingênua e sem frutos revolução armada. Nem nos esmagará um dedo divino destruidor e vingativo.
“A humanidade chegou a um dos períodos de sua transformação e o mundo terreno vai elevar-se na hierarquia dos mundos”, disseram os Espíritos no mesmo livro, anunciando, enfim, o fim do mundo: “É o velho mundo, o mundo dos preconceitos, do orgulho, do egoísmo e do fanatismo que se esboroa. Cada dia leva consigo alguns destroços. Tudo dele acabará com a geração que se vai e a geração nova erguerá o novo edifício, que as gerações seguintes consolidarão e completarão”.
Novo tempos
Para compreender os novos tempos é preciso romper os limites do materialismo e lançar um novo olhar, observando que a humanidade se comporta como se fosse uma pessoa, evoluindo desde bebê, tornando-se criança (fase inicial pela qual a humanidade viveu sua pré-história), passando pela adolescência (onde a revolta e o conflito de valores conturbam a personalidade – estamos nesta fase) e, enfim, alcançando a maioridade, fase adulta em que assume seus valores e obrigações.
A Terra vai entrar na fase adulta e para isso precisa evoluir moralmente, já que intelectualmente fez e está fazendo o que pode. Uma nova geração vai surgir, superando defeitos e explorando novos potenciais: “Trata-se, portanto, muito menos de uma nova geração corporal, do que de uma nova geração de espíritos. Assim, desapontados ficarão os que contem que a transformação resulte de efeitos sobrenaturais e maravilhosos”.
A nova geração
A nova geração comportará, assim, todos os indivíduos que abracem as ideias progressistas destinadas a dar condições apropriadas para todos os homens. Os nossos conturbados tempos se explicam, portanto, pelo convívio concomitante de duas gerações antagônicas de espíritos entre nós.
“A nova geração se distingue por uma inteligência e uma razão, em geral, precoces, juntas ao sentimento inato do bem e das crenças espiritualistas, o que é sinal indubitável de certo grau de adiantamento anterior. Não se comporá tão somente de espíritos eminentemente superiores, mas de espíritos que, já tendo progredido, estão predispostos a assimilar as ideias progressistas e aptos a secundar o movimento regenerador”, explicaram os espíritos no livro A gênese.
Aferição dos valores
Hoje vivemos os dias difíceis de transição. Não basta ter boa vontade. A simplicidade é um valor precioso, mas a ingenuidade pode levar aos falsos caminhos. O materialismo está entranhado nas ciências e filosofias, e a verdade permanece obscurecida por um véu de ignorância. Os ensinamentos contidos na doutrina espírita são uma baliza segura, para quem não está em busca de novidades inúteis: “O Espiritismo é a senda que conduz à renovação, porque destrói os dois maiores obstáculos que se opõem a essa renovação: a incredulidade e o fanatismo; porque faculta uma fé sólida e esclarecida”, em Obras póstumas.
E para quem ainda tem dúvidas, não, a Terra não vai acabar. Os homens conquistarão os valores da alma, e a humanidade será, enfim, feliz. Quem tem olhos de ver, que veja!
O fim do mundo em 1840, em 1911, em 2000, em 2012, em 2019...
Falsos profetas anunciaram, anunciam e vão continuar anunciando a extinção do planeta. Cada um deles acha-se o escolhido salvador da humanidade. No tempo de Allan Kardec, 150 anos atrás, obras anunciando a tragédia final também faziam sucesso, conforme texto publicado na Revista Espírita de 1868, sobre um pequeno livro, O fim do mundo em 1911, bastante divulgado em Lyon, e que havia acabado de chegar em Paris: “Entre os vivos de hoje, mais de um será testemunha dessa grande catástrofe”, ironizava Kardec, dizendo que ali não se tratava de uma figura, mas do fim real, o aniquilamento da Terra e a destruição completa de todos os seus habitantes.
Lembrou ainda o codificador que o fim do mundo já havia também sido predito para o ano de 1840. “Isso foi pregado nas igrejas e anunciado em alguns catecismos de Paris. Esmolas foram pedidas e doações provocadas para salvar as almas”, informava, destacando ainda que, ao ler na Sociedade de Paris os fragmentos narrados acima, o antigo colega desencarnado, Jobard, dera a seguinte comunicação:
Comunicação do espírito Jobard
“Eu passava, quando ouvi a vibração de uma imensa gargalhada. Escutei com interesse e, tendo reconhecido o barulho do riso dos encarnados e dos desencarnados, disse a mim mesmo: Sem dúvida, a coisa é interessante, vamos ver! O fim do mundo!... Ah! Meu Deus, disse a mim mesmo, e se for o fim do mundo? A voz de vosso presidente e meu amigo [Kardec] tendo vindo até mim, ouvi que lia algumas passagens de um livro onde se anuncia o fim do mundo como muito próximo. O assunto me interessou. Escutei atentamente e, depois de ter maduramente refletido, venho, como o autor desse livro, vos dizer: Sim, senhores, o fim do mundo está próximo! Se o medo do fim do mundo causa terror nas pessoas, ela fere igualmente os espíritos atrasados do mundo espiritual. Todos aqueles que, embora espíritos, vivem mais materialmente, se amedrontam a essa ideia, imaginando a destruição da matéria. Por mim, pensei: Sim, o fim do mundo está próximo, ele está ali, eu o vejo, eu o toco... Mas de que mundo é o fim? Será o fim do mundo da superstição, do despotismo, dos abusos mantidos pela ignorância, da malevolência e da hipocrisia; será o fim do mundo egoísta e orgulhoso, do pauperismo, de tudo o que é vil e rebaixa o homem.” (Revista Espírita de 1868)
Seminário “Apocalipse, mitos e verdades”, de Haroldo Dutra Dias, 2ª parte..