Na profunda obra literária “O Pequeno Príncipe”, de autoria do pensador, escritor, e ilustrador francês Antoine de Saint Exupéry, (Lyon, 1900-1944), no singular debate entre a raposa (personagem do supracitado volume) e o monarca infantil, o arguto canídeo revela ao outro um segredo que, se meditado e praticado, pouparia ao ser humano muitas desventuras; o mencionado animal, dialogando com “Le Petit Prince” (título francês), lhe desvela o sigilo de que “só se vê bem com o coração”, e complementa asseverando que “o essencial é invisível aos olhos”.
Na Parábola do Rico e Lázaro (Lucas 16:19-31), nos versículos 27 e 28, o primeiro pede a Abraão que o segundo possa ser visto por seus 5 irmãos que estão vivos e fale para estes o que lhe aconteceu; ao que o patriarca dos hebreus responde que tal ato não adiantaria (v. 31). Em outras palavras: no caso em questão, seria necessário que os encarnados anteriormente citados compreendessem as causas do ocorrido e não apenas vissem suas consequências.
Igualmente fazendo alusão à nossa visão, encontramos no Novo Testamento, em João 20:25, o apóstolo Tomé, que já tinha ciência da morte do Amado Rabi, duvidar que o Divino Jardineiro aparecera aos seus companheiros de apostolado cristão, fato que deu origem posteriormente a mais uma bem-aventurança pelo Excelso Pegureiro em João 20:29, o qual, ao dizer “que terão grande felicidade aqueles que acreditarem sem ser necessário ver”, corrobora a asserção dita séculos depois pelo escritor francês acima descrito.
Encontramos ainda na Bíblia, mais exatamente em Atos 9:2-5, (livro bíblico provavelmente escrito por Lucas), o médico evangelista narrar a conversão do jovem tarsense, o qual se encontra às portas de Damasco, fica cego por 3 dias com a luminosidade de Jesus (Atos 9:9) e, a partir daquele instante, aceita e difunde o Cristianismo. Caros leitores, não há dúvida de que a imagem do Cristo teve a sua importância, todavia, a conscientização da sublimidade, beleza e profunda bondade das palavras e atos do Adorado Messias, pelo doutor romano, tiveram mais expressivo peso para aquele que seria em um futuro próximo o maior disseminador do Evangelho.
Já que falamos em Paulo de Tarso, este, na segunda epístola aos Coríntios, no capítulo 4º, no 18º versículo, também dá-nos uma dica da referida aparente contradição visual mencionada pelo dito inicialmente afamado desenhista de ilustrações lionês, ao narrar que “as coisas que vemos são efêmeras, as demais, duradouras”. O Apóstolo dos Gentios faz-nos crer que é mais importante interiorizar e consequentemente introjetar um determinado fato, do que simplesmente ver a sua imagem.
A explicação a esse fenômeno óptico nos é claramente exposta, à medida que atentarmos para o conteúdo de “O Evangelho segundo o Espiritismo”. Vejamos o que esse livro nos mostra no capítulo VII (BEM-AVENTURADOS OS POBRES DE ESPÍRITO), item 10:
“Não se veem todos os dias criaturas que não cedem nem à evidência, chegando até a dizer: "Ainda que eu visse, não acreditaria, porque sei que é impossível"? Esses, se se negam assim a reconhecer a verdade é que ainda não trazem maduro o espírito para compreendê-la, nem o coração para senti-la. O orgulho é a catarata que lhes tolda a visão. De que vale apresentar a luz a um cego? Necessário é que, antes, se lhe destrua a causa do mal. Daí vem que, médico hábil, Deus primeiramente corrige o orgulho. Ele não deixa ao abandono aqueles de seus filhos que se acham perdidos, porquanto sabe que cedo ou tarde os olhos se lhes abrirão”. (KARDEC, 1996, p. 138.)
Novamente nesse livro, agora no capítulo XVII (SEDE PERFEITOS), no tópico “O homem de bem”, deparamo-nos com os seguintes escritos: “Tem fé no futuro, razão por que coloca os bens espirituais acima dos bens temporais”. (KARDEC, 1996, p. 272.)
Outra vez, na terceira obra Kardeciana, no capítulo XXV (BUSCAI E ACHAREIS), no item 8, notamos os dizeres:
"Não acumuleis tesouros na Terra, pois que são perecíveis; acumulai-os no céu, onde são eternos". Em outros termos: não ligueis aos bens materiais mais importância do que aos espirituais e sabei sacrificar os primeiros aos segundos. (Cap. XVI, nº 7 e seguintes - KARDEC, 1996, p. 359.)
Lemos também na Revista Espírita de 1860, no mês de outubro, a matéria intitulada “Sobre o Valor das Comunicações Espíritas”; eis abaixo um trecho desta:
“... o Espírito de Verdade nos recomenda o desprezo das coisas terrenas, que não podemos carregar, nem assimilar, para só pensarmos nos bens espirituais e morais, que nos acompanham e nos servirão pela eternidade, não só de distração, mas como degraus para nos elevarmos incessantemente na grande escada de Jacó, na incomensurável hierarquia dos Espíritos”. (KARDEC, sem data de publicação, p. 455.)
Na sexta parte da introdução de “O Livro dos Espíritos”, encontramos: “A alma é um Espírito encarnado, sendo o corpo apenas o seu envoltório”. (KARDEC, 1995, p. 23.)
Ainda na obra inaugural do Espiritismo, a questão 135, no capítulo II, “Da Encarnação dos Espíritos”, nos elucida quanto ao “cordão fluídico”, o qual liga a alma ao corpo, sendo que, nesse último, encontramos 3 partes. De acordo com esse livro, vemos:
“1º - o corpo ou ser material, análogo ao dos animais e animado pelo mesmo princípio vital;
2º - a alma, Espírito encarnado que tem no corpo a sua habitação;
3º - o princípio intermediário, ou perispírito, substância semimaterial que serve de primeiro envoltório ao Espírito e liga a alma ao corpo. Tais, num fruto, o gérmen, o perisperma e a casca”. (KARDEC, 1995, p. 104-105.)
Na pergunta seguinte os Espíritos mostram-nos que “O corpo não é mais do que envoltório”. (KARDEC, 1995, p. 105.)
Por tudo isso, lembramos a filosófica frase de “O Pequeno Príncipe”: “Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos”. (EXUPÈRY, p. 38.)
Referências bibliográficas:
KARDEC, A. O Evangelho segundo o Espiritismo. Rio de Janeiro: FEB, 1996.
KARDEC, A. Revista Espírita - 1860. Brasília: FEB, (sem data de publicação).
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 1995, (Arquivo PDF).
EXUPÉRY, A. S. O Pequeno Príncipe. (Arquivo PDF).