Além do seu movimento anual em torno do Sol, origem das estações, do seu movimento de rotação sobre si mesma em 24 horas, origem do dia e da noite, tem a Terra um terceiro movimento que se completa em cerca de 25.000 anos, ou, mais exatamente, em 25.868 anos, e que produz o fenômeno denominado, em astronomia, Precessão dos Equinócios. Este movimento, que não se pode explicar em poucas palavras, sem o auxílio de figuras e sem uma demonstração geométrica, consiste numa espécie de oscilação circular, que se há comparado à de um pião a morrer, e por virtude da qual o eixo da Terra, mudando de inclinação, descreve um duplo cone cujo vértice está no centro do planeta, abrangendo as bases desses cones a superfície circunscrita pelos círculos polares, isto é, uma amplitude de 23 e 1/2 graus de raio.


O Equinócio é o instante em que o Sol, passando de um hemisfério a outro, se encontra perpendicular ao equador, o que acontece duas vezes por ano, a 21 de março, quando o Sol passa para o hemisfério boreal, e a 22 de setembro, quando volta ao hemisfério austral.


Mas, em consequência da gradual mudança na obliquidade do eixo, o que acarreta outra mudança na obliquidade do equador sobre a eclíptica, o momento do equinócio avança cada ano de alguns minutos (25 minutos e 7 segundos). A esse avanço é que se deu o nome de Precessão dos Equinócios (do latim proecedere, caminhar para diante, composto de proe, adiante, e cedere, ir-­se).


Com o tempo, esses poucos minutos fazem horas, dias, meses e anos, resultando daí que o equinócio da primavera, que agora se verifica no mês de março, em dado tempo se verificará em fevereiro, depois em janeiro, depois em dezembro. Então o mês de dezembro terá a temperatura de março e março a de junho e assim por diante, até que, voltando ao mês de março, as coisas se encontrarão de novo no estado atual, o que se dará ao cabo de 25.868 anos, para recomeçar indefinidamente a mesma revolução.


A precessão dos equinócios ocasiona outra mudança: a que se opera na posição dos signos do zodíaco. Girando a Terra ao derredor do Sol em um ano, à medida que ela avança, o Sol, cada mês, se encontra diante de uma constelação. Estas são em número de doze, a saber: o Carneiro, o Touro, os Gêmeos, o Câncer, o Leão, a Virgem, a Balança, o Escorpião, o Sagitário, o Capricórnio, o Aquário, os Peixes. São chamadas constelações zodiacais, ou signos do zodíaco, e formam um círculo no plano do equador terrestre. Conforme o mês do nascimento de um indivíduo dizia-­se que ele nascera sob tal ou tal signo; daí os prognósticos da astrologia. Mas, em virtude da precessão dos equinócios, acontece que os meses já não correspondem às mesmas constelações. Um que nasça no mês de julho já não está no signo do Leão, porém no do Câncer. Cai assim a ideia supersticiosa da influência dos signos. 


Desse movimento cônico do eixo, resulta que os pólos da Terra não olham constantemente os mesmos pontos do céu; que a Estrela Polar não será sempre estrela polar; que os pólos gradualmente se inclinam mais ou menos para o Sol e recebem dele raios mais ou menos diretos, donde se segue que a Islândia e a Lapônia, por exemplo, localizadas sob o círculo polar, poderão, em dado tempo, receber raios solares como se estivessem na latitude da Espanha e da Itália e que, na posição do extremo oposto, a Espanha e a Itália poderão ter a temperatura da Islândia e da Lapônia, e assim por diante, a cada renovação do período de 25.000 anos.


O deslocamento gradual das linhas isotérmicas, fenômeno que a ciência reconhece de modo tão positivo como o do deslocamento do mar, é um fato material que apoia esta teoria.


Ainda não puderam ser determinadas com precisão as consequências deste movimento, porque somente se há podido observar uma pequena parte da sua revolução. A respeito, pois, não há mais do que presunções, algumas das quais com caráter de probabilidade.


Essas consequências são:


1.ª. O aquecimento e o resfriamento alternativos dos pólos e, por conseguinte, a fusão dos gelos polares durante a metade do período de 25.000 anos e a nova formação deles durante a outra metade desse período. Resultaria daí não estarem os pólos condenados a uma perpétua esterilidade, cabendo­-lhes gozar a seu turno dos benefícios da fertilidade.


2.ª. O deslocamento gradativo do mar, fazendo-­o invadir pouco a pouco umas terras e pôr a descoberto outras, para de novo as abandonar, voltando ao seu leito anterior. Esse movimento periódico, indefinidamente renovado, constituiria uma verdadeira maré universal de 25.000 anos.


A lentidão com que se opera esse movimento do mar torna-­o quase imperceptível para cada geração. Faz­-se, porém, sensível ao cabo de alguns séculos. Nenhum cataclismo súbito pode ele causar, porque os homens se retiram, de geração em geração, à proporção que o mar avança, e avançam pelas terras de onde o mar se retira. É a essa causa, mais que provável, que alguns sábios atribuem o afastamento do mar de certas costas e a invasão de outras por ele.


O deslocamento demorado, gradual e periódico do mar é fato que a experiência comprova e numerosos exemplos confirmam, em todos os pontos do globo. Tem por efeito o entretenimento das forças produtivas da Terra. A longa imersão é para os terrenos um tempo de repouso, durante o qual eles recuperam os princípios vitais esgotados por uma não menos longa produção. Os imensos depósitos de matérias orgânicas, formados pela permanência das águas durante séculos e séculos, são adubações naturais, periodicamente renovadas, e as gerações se sucedem sem se aperceberem de tais mudanças.


Entre os fatos mais recentes que provam o deslocamento do mar, podem citar­-se estes:


No golfo da Gasconha, entre o velho Soulac e a Torre de Cordouan, quando o mar está calmo, percebe-­se no fundo da água trechos de muralha: são os restos da antiga e grande cidade de Noviomagus, invadida pelas ondas em 580. O rochedo de Cordouan, que se achava então ligado à margem, está agora a 12 quilômetros.


No mar da Mancha, sobre a costa do Havre, as águas dia a dia ganham terreno e minam as penedias de Sainte ­Adresse, que pouco a pouco desmoronam. A dois quilômetros da costa entre Sainte­ Adresse e o cabo de Hève, existe um banco que outrora se achava à vista e ligado à terra firme. Antigos documentos atestam que nesse lugar, por sobre o qual hoje se navega, existia a aldeia de Saint­ Denis­ chef ­de­ Caux. Tendo o mar invadido, no décimo quarto século, o terreno, a igreja foi tragada em 1378. Dizem que, com bom tempo, se vêem os restos no fundo do mar.


Em quase toda a extensão do litoral da Holanda, o mar só é contido a poder de diques, que de tempos a tempos se rompem. O antigo lago de Flevo, que se reuniu ao mar em 1225, forma hoje o golfo de Zuyder zée. Essa irrupção do oceano tragou muitas povoações. Segundo isto, o território de Paris e da França toda seria de novo ocupado pelo mar, como já o foi muitas vezes, conforme o demonstram as observações geológicas. Então, as partes montanhosas formarão ilhas, como o são agora Jersey, Guernesey e a Inglaterra, outrora contíguas ao continente. Navegar-­se­-á por sobre regiões que atualmente se percorrem de caminho de ferro; os navios aportarão a Montmartre, ao monte Valeriano, aos outeiros de Saint­ Cloud e de Meudon; os bosques e florestas, agora lugares de passeio, ficarão sepultados nas águas, cobertos de limo e povoados de peixes, que substituirão as aves. O dilúvio bíblico não pode ter tido essa causa, pois que foi repentina a invasão das águas e de curta duração a permanência delas, ao passo que, de outro modo, essa permanência houvera sido de muitos milhares de anos e ainda duraria, sem que os homens se apercebecem por isso.



Referências:

A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo  - Cap. IX  - Allan Kardec.





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