Amar‐se não significa laborar por privilégios e vantagens pessoais, mas o modo como convivemos conosco. Resume‐se, basicamente, como tratamos a nós próprios. A relação que estabelecemos com o nosso mundo íntimo. Sobretudo, o respeito que exercemos àquilo que sentimos. A autoestima surge quando temos atitude cristã com nossos sentimentos. O amor a si não se confunde com o egoísmo, porque quem tem atitude amorosa consigo está centrado no self. Deslocou o foco de seus sentimentos para a fonte de sabedoria e elevação, criando ressonância com o ritmo de Deus.

Amar‐se é ir ao encontro do Si Mesmo como denominava Jung. Alinhavemos alguns tópicos sugestivos que poderão constar no programa de debates para reeducação da vida emocional e psicológica à luz dos fundamentos do Espiritismo. Tomemos por base a análise educacional de Allan Kardec que diz na questão número 917 de O LIVRO DOS ESPÍRITOS:

“A educação convenientemente entendida, constitui a chave do progresso moral. Quando se conhecer a arte de manejar os caracteres, como se conhece a de manejar as inteligências, conseguir‐se‐á corrigi‐los, do mesmo modo que se aprumam plantas novas. Essa arte, porém, exige muito tato, muita experiência e profunda observação. É grave erro pensar‐se que, para exercê‐la com proveito, baste o conhecimento da Ciência”.

Responsabilidade — Somos os únicos responsáveis pelos nossos sentimentos.

Consciência — O sentimento é o espelho da vida profunda do ser e expressa os recados da consciência. Nossos sentimentos são a porta que se abre para esse mundo glorioso que se encontra “oculto”, desconhecido.

Ética para conosco — Somos tratados como nos tratamos. Como sermos merecedores de amor do outro, se não recebemos nem o nosso próprio?

Juízo de valor — Não existem sentimentos certos ou errados.

Automatismos e complexos — O sentimento pode ser sustentado por mecanismos alheios à vontade e à intenção.

Autoamor é um aprendizado — Construir um novo olhar sobre si, desenvolver sentimentos elevados em relação a nós, constitui um longo caminho de experiências nas fieiras da educação.

Domínio de si — Educar sentimentos é tomar posse de nós próprios.

Aceitação — Só existe amor a si através de uma relação pacífica com a sombra.

Renovação do sistema de crenças — Superar os preconceitos. Julgamentos formulados a partir do sistema de crenças desenvolvidas com base na opinião alheia desde a infância.

Ação no bem — Integração em projetos solidários. A aquisição de valor pessoal e convivência com a dor alheia trazem gratidão, estima pelas vivências pessoais. Cuidando bem de nós próprios, somos, simultaneamente, levados a estender ao próximo o tratamento que aplicamos a nós, independente de sermos amados, passamos a experimentar mais alegria em amar. A ética de amor a si deve estar afinada com o amor ao próximo.

Assertividade — Diálogo interno. Uma negociação íntima para zelar pelos limites do interesse pessoal.

Florescer a singularidade — O maior sinal de maturidade. Estamos muito afastados do que verdadeiramente somos.

Ter as rédeas de si mesmo — Para muitos o personalismo surge nesse ato de gerir a vida pessoal com independência. Pelo simples fato de não saberem como manifestar seus desejos e suas intenções, abdicam do controle íntimo e submetem‐se ao controle externo de pessoas e normas.

Construção da autonomia — Autonomia é capacidade de sustentar sentimentos nobres acerca de nós próprios.

Identificação das intenções — aprender a reconhecer o que queremos, qual nossa busca na vida. Quase sempre somos treinados a saber o que não queremos.

Sentir‐se bem consigo é sinônimo de felicidade, acesso à liberdade. É permitir que a centelha sagrada de Deus se acenda em nós. Conhecer a arte de manejar caracteres.

Portanto, a feliz colocação de Fénelon merece a nossa mais ardorosa atenção: O amor é essência divina e todos vós, do primeiro ao último, tendes, no fundo do coração, a centelha desse fogo sagrado.

Não esqueçamos a recomendação de Lázaro: “O Espírito precisa ser cultivado, como um campo. Toda a riqueza futura depende do labor atual, que vos granjeará muito mais do que bens terrenos: a elevação gloriosa” (O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO – capítulo XI – item 8).


Ermance Dufaux

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