Talvez, (quem sabe?), uma das mais tristes experiências humanas, na longa jornada pelos caminhos deste mundo, seja a solidão...

Superar a imensa aridez que se expande nos limites mais íntimos do ser... Suportar o vazio no plano das carências afetivas e sentir o abandono nas dimensões subjetivas da alma é extremamente difícil...

Nas crises circunstanciais da vida, quando não podemos saciar a nossa grande fome de amor, nem conter a imperiosa necessidade de afeto, sentimo-nos impotentes para acionar as defesas da razão, indigentes pela falta de carinho e até mesmo exauridos em nossa última reserva de esperança...

Dizem, — e talvez estejam certos -, que a mais sofrida das carências não é a material. Para esta haverá sempre alguém disponível a dar um pedaço de pão que alimenta o corpo e uma roupa usada que o veste. 

Quando, porém, o espírito chora a ausência de um amor fraterno e os seus gritos se perdem nos horizontes do abandono, sem fazerem eco em corações solitários..., aí, sim, instala-se o desencanto com a presença sombria da única companheira, que se chama, tristeza...

O impacto da dor e a perplexidade das lágrimas sempre deixam profundas marcas de desalento, quando não temos um "Cirineu" amigo para dividir o peso da cruz nos espinheirais do nosso "Gólgota"... Até mesmo as eventuais alegrias, quando não partilhadas pela emoção dos amigos, esmaecem em seu colorido e se fragilizam na dissonância de uma frustração que impede conheçamos em plenitude humana, o luminoso sentimento da felicidade...

Assim é a vida.... Como temos, porém, de prosseguir desbravando trilhas em busca de renovadas soluções, resta-nos a alternativa autossalvadora de superarmos os conflitos, obstruindo as vertentes do desespero. 

Não adianta ficarmos presos ao “cárcere” das queixas e lamentações, pois estas, além de não preencherem o vazio espaço das nossas carências, ainda impedem o livre curso das nossas idealizações...

Não podemos, é claro, comparar sentimentos humanos, pois cada um tem es suas próprias forças para vivê-los e enfrentá-los nos limites das suas resistências individuais. 

Se olharmos, contudo, ao nosso redor, haveremos de constatar irmãos nossos que percorrem ásperos caminhos na hostil experiência de uma vida extremamente difícil sem perspectivas de afeto e sem esperanças de amor...

...Existe a solidão nos asilos, onde velhos, - árvores ressequidas pelo rigor do tempo -, sofrem a imposição do abandono e sentem na alma, a dor da ingratidão...

Existe a solidão nos Hospitais, onde doentes, ilhados aos limites estreitos de um leito de enfermaria coletiva, muitas vezes estão conscientes da partida, mas não recebem o conforto de um adeus e não levam a certeza de uma saudade...

Existe a solidão nos orfanatos, onde crianças – quase recém-chegadas ao mundo – recebem a caridade de abrigo, mas já começam a sentir sem compreender, que aquele amor doado de maneira coletiva não satisfaz as exigências do seu coração...

Já que não podemos manter a presciência e a antevisão de um futuro de afetos partilhados, talvez tenhamos mesmo de seguir a sugestão do poeta, que diz: “É preciso aprender a ser só”. Eu acrescento, porém, o seguinte: Ser só não é isolar-se. É saber enfrentar o desafeto e desafiar o abandono sem a culpa das mágoas, sem escravidão da revolta e sem o peso da desesperança. 

Quem semeia sorrisos colhe alegrias! Quem se doa em palavras e gestos de solidariedade recebe por justiça a recompensa de ouvir – gratificado – os aplausos nos domínios subjetivos da própria consciência!

É sempre assim: Quando projetamos de nós, a luminosa energia do amor, vencemos a solidão!

Jácome Góes do  livro:  
Conceitos de Vida – Cap. 65

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