O filme de animação “SOUL” produzido pela Disney Pixar trata com leveza de temas como imortalidade, existência da alma e ideias inatas.

A animação SOUL, da Disney Pixar, traz a história do professor de música Joe Gardner, que sonha em um dia ser músico profissional. Quando chega a chance de estrear em seu primeiro show de jazz, sofre um acidente e tem a alma separada do corpo. Ele consegue se transportar para uma área chamada “Pré-vida” onde almas jovens se desenvolvem e escolhem seu propósito antes de encarnar na Terra.

Em tom leve e divertido, o filme trata de temas filosóficos comuns a diversas religiões e linhas de pensamento: existe alma? O que acontece após a morte? Como funciona a comunicação entre os mundos dos vivos e dos mortos? O que faz de nós o que somos?

Nesta publicação, baseada em palestra realizada na Associação Espírita Fé e Caridade, vamos conhecer um pouco sobre como a Doutrina Espírita interpreta essas questões.

A alma na visão espírita

Conforme Allan Kardec nos traz em O Livro dos Médiuns, capítulo I:

Os Espíritos não são senão as almas dos homens, despojadas do invólucro corpóreo. (…) Figuremos, primeiramente, o Espírito em união com o corpo. Ele é o ser principal, pois que é o ser que pensa e sobrevive. O corpo não passa de um acessório seu, de um invólucro, uma veste, que ele deixa, quando usada.

Também em O Livro dos Espíritos, na questão 134-b, a espiritualidade esclarece que a alma nada mais é que o Espírito quando encarnado.

“Sim, as almas não são senão os Espíritos. Antes de se unir ao corpo, a alma é um dos seres inteligentes que povoam o mundo invisível, os quais temporariamente revestem um invólucro carnal para se purificarem e esclarecerem.”

Portanto, tudo que o professor Joe Gardner (e cada um de nós) é, tudo que ele pensa e sente, está contido em sua alma. Uma vez separado do corpo, ele segue sendo exatamente quem sempre foi, mesmo que seu antigo corpo já não esteja mais em atividade.

Morte repentina e o impacto para a alma

No filme, a alma do personagem sofre uma separação brusca do corpo em função de um acidente. O que a doutrina espírita nos esclarece sobre esse tipo de acontecimento?

No capítulo I de O Céu e o Inferno, Kardec aponta:

“(…) A perturbação pode, pois, ser considerada o estado normal no instante da morte e perdurável por tempo indeterminado, variando de algumas horas a alguns anos. À proporção que se liberta, a alma encontra-se numa situação comparável à de um homem que desperta de profundo sono; as ideias são confusas, vagas, incertas; a vista apenas distingue como que através de um nevoeiro, mas pouco a pouco se aclara, desperta-se-lhe a memória e o conhecimento de si mesma..” — O Céu e O Inferno, Cap I.

Na animação SOUL, o personagem principal fica atordoado por alguns instantes, não chega a perder os sentidos e compreende o que houve e parte para ação (no caso dele, para a fuga). Na realidade, na maioria dos casos o que ocorreu em instantes no filme costuma levar horas, dias ou mesmo meses para muitos recém-desencarnados.

O Grande Além e o Céu na visão espírita

Diferente da visão apresentada na animação SOUL, de um espaço delimitado tratado como “O Grande Além”, sendo um local circunscrito no universo como destino das almas após a morte, para a Doutrina Espírita o céu não tem limites e está por toda a parte.

Conforme esclarece Allan Kardec no livro O Céu e o Inferno, capítulo III:

“Nessa imensidade ilimitada, onde está o Céu? Em toda parte. Nenhum contorno lhe traça limites. Os mundos adiantados são as últimas estações do seu caminho, que as virtudes franqueiam e os vícios interditam. Ante este quadro grandioso que povoa o universo, que dá a todas as coisas da Criação um fim e uma razão de ser, quanto é pequena e mesquinha a doutrina que circunscreve a humanidade a um ponto imperceptível do Espaço, que no-la mostra começando em dado instante para acabar igualmente com o mundo que a contém, não abrangendo mais que um minuto na eternidade!”

O pré-vida e o planejamento reencarnatório

Em SOUL, o personagem do professor Joe Gardner é transportado para o “Seminário Você”, um centro no qual as almas se desenvolvem e ganham paixões antes de serem transportadas para um recém-nascido. E na visão da Doutrina Espírita, como funciona a preparação para uma encarnação?

Na pergunta 124 de O Livro dos Espíritos, Kardec questiona: “Que é a alma no intervalo das encarnações?”, ao que a espiritualidade responde: “Espírito errante, que aspira a novo destino, que espera.” Na sequência, na pergunta 124a, Kardec questiona sobre o tempo de duração desse estágio, e a espiritualidade mostra que pode durar desde algumas horas até milhares de séculos.

Na animação SOUL as almas escolhem suas áreas de atuação e identificam seu propósito antes de encarnar na Terra. Na pergunta 259 de O Livro dos Espíritos, Kardec questiona exatamente sobre esse ponto, será que podemos escolher o gênero de provas que iremos sofrer e prever as experiências que teremos na vida, antes de assumir um corpo material?

A resposta da espiritualidade nesta questão é:

“Todas [as provas], não, porque não escolhestes e previstes tudo o que vos sucede no mundo, até às mínimas coisas. Escolhestes apenas o gênero das provações. As particularidades correm por conta da posição em que vos achais; são, muitas vezes, consequências das vossas próprias ações. Escolhendo, por exemplo, nascer entre malfeitores, sabia o Espírito a que arrastamentos se expunha; ignorava, porém, quais os atos que viria a praticar. Esses atos resultam do exercício da sua vontade, ou do seu livre-arbítrio.

O Livro dos Espíritos, questão 259.

Uma das passagens mais marcantes do filme é uma lição comentada entre dois personagens, que trata da percepção sobre o que buscamos na vida. A relação entre o peixinho que só vê água e segue buscando o oceano pode ser relacionada à nossa busca pela divindade, a influência de Deus em nossas vidas.


No livro A Gênese, Kardec traz uma bela passagem que comenta como estamos mergulhados no fluido divino tal qual peixes em um oceano.


“A natureza inteira está mergulhada no fluido divino. (…) Nenhum ser haverá, por mais ínfimo que o suponhamos, que não esteja saturado dele. Achamo-nos então, constantemente, em presença da Divindade; nenhuma das nossas ações lhe podemos subtrair ao olhar; o nosso pensamento está em contato ininterrupto com o seu pensamento, havendo, pois, razão para dizer-se que Deus vê os mais profundos refolhos do nosso coração. Estamos nele, como Ele está em nós, segundo a palavra do Cristo (1 João, 4:13).” — A Gênese, Cap II.


A palestra sobre o tema traz ainda esclarecimentos sobre:


Espíritos sofredores

Espíritos zombeteiros

Metempsicose (almas de homens habitando corpos de animais),

Mediunidade

Caminho para o autoconhecimento

Fonte: www.aefc.org.br


Deixe seu Comentário