Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra. (Mateus, 5: 5).
Mas os mansos herdarão a terra e se deleitarão na abundância de paz. (Salmos, 37: 11).
O Espírito Emmanuel, com a precisão e compreensão que lhe são características, grafou e nos legou para quando buscarmos analisar e interpretar o evangelho, a assertiva de que “Todas as sentenças evangélicas permanecem assinaladas de beleza e sabedoria ocultas. Indispensável meditar, estabelecer comparações no silêncio e examinar experiências diárias para descobri-las” (1). O mesmo benfeitor espiritual ainda recomenda que “Na leitura do Evangelho, é necessário fixar o pensamento nas lições divinas, para que lhe sorvamos o conteúdo de sabedoria” (2).
Reconhecemos que a simples interpretação literal nos conduz, quase sempre, a um entendimento superficial, quando não, equivocado. Os reais significados e ensinamentos do texto evangélico, como assinala Emmanuel, estão, via de regra, ocultos. Bem compreender-lhes, ainda segundo o benemérito instrutor, requer, de cada um de nós, a fixação do pensamento, a meditação e a experiência diária.
Assim, atentos a esta diretriz, busquemos compreender e meditar sobre o significado da lição transmitida pelo Divino Mestre, nas bem-aventuranças (Mateus, 5: 5) e presente também em Salmos (37: 11), respectivamente: “Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra”; e, “Mas os mansos herdarão a terra e se deleitarão na abundância de paz”.
Afinal, quem são os mansos a que se refere Jesus?
Os mansos são todos aqueles espíritos, que, aproveitando as várias oportunidades reencarnatórias no planeta Terra, se depuraram e evoluíram segundo os ensinamentos passados pelo Divino Mestre, ou seja, aqueles que verdadeiramente aprenderam e vivenciaram o amor a Deus e ao próximo; aqueles que fraternalmente contribuíram para com o desenvolvimento espiritual do planeta; aqueles que humildemente e com resignação aceitaram e suportaram as suas provas e expiações e se depuraram; aqueles que engrossaram as fileiras do trabalho redentor na seara divina; aqueles que, individual e coletivamente, contribuíram para o desenvolvimento social e científico da humanidade; aqueles que efetivamente contribuíram para o desenvolvimento de seus irmãos de caminhada na senda evolutiva.
Mas, e a terra? Que ou qual Terra, herdarão os mansos?
A terra a que se refere o Meigo Mestre é o planeta! O planeta Terra! Não se trata, portanto, de um pedaço de terra geograficamente delimitado e tampouco se refere à terra prometida.
Jesus quer nos mostrar que chegará o momento que, no planeta Terra, somente reencarnarão os espíritos que, ao longo de suas experiências, passaram a vibrar na faixa do amor, da compreensão, da caridade, da fraternidade e da liberdade.
Corroborando esse entendimento, o Espírito Cairbar Schutel (3), nos legou a seguinte mensagem:
“Quando os mansos herdarem a terra, cumprindo-se a promessa de Jesus, já não haverá lugar para os maus e os que, de qualquer forma, entravam o progresso espiritual da humanidade. Por absoluta incompatibilidade com a vibração evangélica dos bons e dos libertos, irão os mais automaticamente para as trevas exteriores. Delas retornarão um dia para a luz do Mestre, que não quer que ninguém se perca”.
“Até lá, o mundo terá alcançado tal progresso que mesmo um retorno um tanto antecipado, por acréscimo de misericórdia, de algum espírito ainda não-integralmente evangelizado, longe de causar qualquer perturbação, será estímulo sagrado para os demais, no sentido do amparo fraternal”.
O deleite na abundância de paz
É sabido que estamos vivendo a fase de transição em que o planeta Terra se elevará na escala dos mundos, deixando de ser um mundo de provas e expiações, para se tornar um mundo de regeneração.
Nesse diapasão, assim nos ensinou o Espírito de Santo Agostinho (4), quando adentra a lição sobre a progressão dos mundos:
“O progresso é lei da Natureza. A essa lei todos os seres da Criação, animados e inanimados, foram submetidos pela bondade de Deus, que quer que tudo se engrandeça e prospere. (…) Ao mesmo tempo que todos os seres vivos progridem moralmente, progridem materialmente os mundos em que eles habitam. (…) Segundo aquela lei, este mundo esteve material e moralmente num estado inferior ao em que hoje se acha e se alçará sob esse duplo aspecto a um grau mais elevado. Ele há chegado a um dos seus períodos de transformação, em que, de orbe expiatório, mudar-se-á em planeta de regeneração, onde os homens serão ditosos, porque nele imperará a lei de Deus”.
Bem-aventurados, então, os dignos de permanecer junto à nova psicosfera terrestre (5), pois viverão e desfrutarão de um mundo em que a paz e a harmonia prevalecerão em abundância.
Acerca do tema, diz ainda o Espírito de Cairbar Schutel, obra citada: “Reinarão os bons de forma absoluta e total, sob a égide do Divino Mestre e de seus prepostos”.
Mas, e os que não herdarem a Terra? Poderão a ela retornar algum dia?
Deixemos a resposta desta intrigante questão a cargo do Espírito Cairbar Schutel, mesma obra:
“E que as bênçãos do Criador e de Jesus amparem os Exilados da Terra para que, em breve, retornem à casa abençoada, que a Divina Misericórdia lhes concedeu habitarem no universo. E se escolherem por permanecer no Novo Lar, a que serão conduzidos para aprendizado bendito, que as bênçãos de Deus lhes possibilitem, nessa nova seara, um trabalho profícuo no campo da evangelização coletiva”.
Somos os mansos e dignos que herdarão e permanecerão na Terra? As nossas lutas, experiências e vivências diárias responderão.
(1) Xavier, Francisco Cândido. Vinha de Luz, pelo Espírito Emmanuel, Cap. 95, Procuremos.
(2) _____. Vinha de Luz, pelo Espírito Emmanuel, Cap. 126, Obediência construtiva.
(3) Armond, Edgard. A Hora do Apocalipse. Editora Aliança, p. 130.
(4) Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. III, Item 19.
(5) Os mundos regeneradores servem de transição entre os mundos de expiação e os mundos felizes. A alma penitente encontra neles a calma e o repouso e acaba por depurar-se. (Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. III, item 17).
Os Mansos que herdarão a Terra, por José Márcio de Almeida; do Livro Semeando o Evangelho, p. 26-34.