É muitíssimo importante perceber como é que as crianças se relacionam com seus pais.

É importante que as crianças se acostumem à relação com os pais desde muito cedinho. E é nessa conjugação de diálogos, de vivências que os pequenos vão tendo confiança nos pais, que os pais vão se apaixonando pelos pequenos.

Mas, quando nós somos crianças ou quando vemos a relação das crianças com seus pais, com os adultos, percebemos como é curiosa a visão que as crianças têm dos seus pais.

Parece que os pais são gigantes, são todo-poderosos, os pais podem tudo. As crianças confiam nos seus pais cegamente.

A qualquer problema na rua: Vou contar para meu pai. Qualquer dificuldade: Vou me queixar à minha mãe. Isso porque a criança confia piamente na figura desse casal, dos seus pais.

Quando nós pensamos nisso notamos que, em função dessa confiança total e irrestrita que a criança tem nos seus pais, ela também acredita que seus pais podem tudo e, por isso, lhe pede tudo.

A criança não tem noção de limite. Ela quer, ela pede, às vezes esperneia, bate pés, porque elas imaginam que seus pais não lhe estejam dando ou não lhes estejam dando porque não querem dar. Não fazem ideia das dificuldades que os pais têm para atender aos seus gostos, aos seus caprichos, às suas necessidades.

Essa é uma visão da criança. Ela é criança. É da sua faixa etária, é do seu nível psicológico esse tipo de percepção da vida e dos seus pais.

Para a criança, a casa em que nasceu, a casa em que morou quando pequena era gigantesca, imensa, relativamente ao seu próprio tamanho.

Então, nós verificamos que o olhar dos pequenos envolve os maiores com uma certa magia. É um olhar mágico.

Então, se a criança quer colocar a mão no teto, pede ao pai que a coloque sobre os ombros. Seu pai pode.

Quando a criança deseja comprar uma coisa nova apela para sua mãe, corre ao Shopping Center, ao mercado, à loja, à feira. A mãe pode.

Quando nos damos conta das primeiras idades da Humanidade, parece que estávamos diante das crianças à frente dos seus pais.

Também a Humanidade, nas suas horas primeiras, tinha esse tipo de relação com Deus. Não conseguia entender exatamente a função de Deus na psicologia humana, não conseguia perceber que as coisas que desejava nem sempre podiam ser dadas por Deus. Tinha uma concepção da vida mágica, mítica, mitológica.

Então, Deus era capaz de amar e de odiar, de matar a quem nos contrariasse, como se aqueles que nos contrariaram também não fossem Seus filhos.

Mas, essa era uma concepção da Humanidade nos seus primórdios. Fomos aprendendo a ter uma relação curiosa com a Divindade, uma relação estranha com Deus, que representa aí as figuras de nossos pais, uma vez que Deus carrega em Si, na Sua realidade cósmica, a duplicidade de pai e de mãe. Deus é Pai e Mãe.

Mãe porque nos gerou, Pai porque nos mantém. Então, Deus alberga na Sua figura, no entendimento que dEle detemos, essa dualidade cósmica dos dois gêneros, de pai e de mãe.

A Humanidade então, desde sempre, aprendeu a fazer escambos com Deus. Se eu ganhar isto, eu farei aquilo. E começamos o processo de fazer oferendas à Divindade para agradá-la.

As crianças começam a fazer isso com seus pais desde pequenas. O que você vai me dar se eu fizer isto? O que você vai fazer comigo se eu disser isto?

Estamos chegando, nada obstante, ao ponto de ter em Deus o nosso Pai Maior, a Inteligência Suprema do Universo inteiro.

E, por causa disso observarmos a nossa condição diante dEle: a condição de filhos, de criaturas Suas procurando, ao longo do tempo que passa, melhorar o nosso relacionamento com a ideia de Deus, melhorar a nossa vivência, a partir da ideia de Deus.

Na medida em que a Humanidade vai amadurecendo, então podemos perceber que essa relação com a ideia de Deus, essa nossa relação com o nosso Pai, também vai ganhando fórum de maturidade.

Entendemos que dEle promanam todas as coisas. De Deus advêm todas as bênçãos, tudo quanto temos, tudo quanto somos, tudo quanto queremos, em nível material. Mas, agora, entendemos também em nível espiritual.

Sim. Já nos demos conta, ao largo das idades, pelas experiências de acertos, de erros, de quedas, de levantares que nós todos somos Espíritos, somos criações de Deus, seres espirituais.

E como seres espirituais não albergamos somente necessidades no plano da matéria, mas fundamentalmente carregamos necessidades em nível espiritual, no plano da alma, do ser imortal.

Em termos materiais precisamos de comer, beber, vestir, de morar, de remédio, diante das necessidades do corpo, mas aprendemos que essas necessidades devem ser supridas através do nosso trabalho: nossa luta na Terra, nosso cotidiano de sair, de ir à oficina, de ir à gleba, de ir ao escritório, de ir ao consultório. Nós já sabemos que a vida material deve ser suprida por nós, mas onde é que Deus entra nessa questão?

Deus entra nessa questão quando nos dá saúde, quando nos permite o tempo, quando nos abre oportunidades para que, então, no exercício de nossa inteligência, possamos trabalhar, ganhar o nosso pão diário, vestir-nos, morar bem ou morar mal e todas as demais necessidades do mundo material.

Mas, em nível de vida espiritual, no campo da alma, nós precisamos de Deus porque é Ele que nos indica rumos. Por causa disso nos tem enviado à Humanidade, desde os tempos mais prístinos, desde as épocas mais remotas, os Seus mensageiros.

A História nos dá notícias de Zoroastro, de Hermes, de Buda, de Lao-Tsé, de Confúcio, de Moisés, de Jesus Cristo. Ao longo das idades, no seio dos variados povos, Deus foi mandando mensageiros Seus, filhos Seus mais aprimorados, filhos Seus mais desenvolvidos, mais evoluídos, para que ajudassem aos irmãos no começo da carreira, no começo da escolaridade.

E isso tudo nos vai permitindo marchar para esse grande Cosmos que nos aguarda.

Nossa relação com Deus, então, começa a se tornar mais amadurecida. Tivemos necessidade de compreendê-LO e aí foram sendo criadas as religiões, as crenças, os mistérios, o mito.

Mas, nessa atualidade do mundo, nós já contamos com a possibilidade de entender melhor a ideia de Deus e perceber que Deus não pode ser entendido por nós de maneira antropomórfica, como se Ele fosse um ser humano ou um humanoide. Deus é Algo, não pode ser Alguém. Se Deus fosse Alguém teria que ter sido criado por alguém. Deus é Algo.

E a nossa necessidade filosófica e a nossa capacidade de discernimento nos diz que, para que Ele seja o Criador do Universo, tem que ser o Criador não criado. Neste exato momento do mundo, temos muita dificuldade de compreender um Criador que não tenha sido criado.

Somente no campo das especulações filosóficas é que admitimos isto.

E, por causa de admitirmos Deus como Criador não criado do Universo, podemos muito bem trabalhar no sentido de que a nossa relação com Ele seja a mais madura possível, verificando aquilo que é compromisso nosso, o de nos aprimorar, de fazermos esforços, de nos respeitarmos reciprocamente, de amarmos uns aos outros, de cuidar, enfim, da nossa vida interior, mas de trabalhar, de colocar nosso corpo na dinâmica que ele precisa ter: o trabalho, a ginástica, o esporte, o lazer, para bem conservar esta máquina, enquanto o Espírito marcha a passos largos uns, ou a passos de minutos outros, mas todos marchando ao encontro do Grande Pai.

Nossa relação com Deus, dia após dia, vai amadurecendo e, com esse objetivo é que surgiu na Terra o pensamento da Doutrina Espírita a nos ensinar a ver Deus, o Pai Criador, como a Inteligência Suprema do Universo e a Causa causadora de tudo.

 Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 169, apresentado por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná.

Programa gravado em setembro de 2008. Exibido pela NET, Canal 20, Curitiba, no dia 27.09.2009

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