Estas perguntas, que fazemos com frequência, não estão ligadas apenas ao aspecto material da vida, mas, também, à saúde, à afetividade, aos problemas de ordem emocional, moral ou profissional. Por essa razão, Deus nos enviou Jesus, a fim de que Ele colocasse em nossos corações e em nossas mentes o entendimento das Leis divinas, através dos Seus ensinos que, de forma amorosa, nos convidam a meditar sobre esses pesares e dificuldades pelos quais passamos.
Deus não possui dois pesos e duas medidas, mas nós achamos que sim. Todas as vezes que os problemas nos pesam, pensamos que Ele é injusto, porque consideramos nosso sofrimento maior do que o do outro. Mas, ao contrário, se o outro sofre é porque deve merecer. Estabelecemos assim uma imagem de Deus à semelhança do homem: do homem que privilegia uns em detrimento de outros, que é parcial, que age por capricho; do homem que não percebe que, se Deus é bom para com ele, também é bom para com o outro. E se Ele é todo Bondade e Justiça – e sem essas perfeições não seria Deus –, então, a causa de cada sofrimento, seja grande ou pequena, também é justa.
O que dificulta nosso entendimento é não conhecer as razões das nossas aflições. O Evangelho segundo o Espiritismo, em seu capítulo 5, consolando e trazendo esperança, nos mostra que elas podem ter suas causas ainda nesta encarnação ou em encarnações passadas. Assim, para procurarmos as causas atuais das nossas aflições, necessitamos compreender a essência dos atos que praticamos nas nossas atividades diárias, pois não basta obedecer às leis humanas, é indispensável que examinemos a qualidade dessas atitudes, pois aquilo que semeamos será devolvido a nós, porque isto é da Lei de Deus.
Somos livres para plantar, mas seremos obrigados a colher aquilo que plantarmos. E se consultarmos nossa consciência, na busca da fonte de tantas aflições, ela, certamente, nos dirá: “se não tivesse feito tal coisa, isso não teria acontecido e eu não estaria nessas condições”! Entretanto, ao invés de nos reconhecermos como criadores do próprio sofrimento, buscamos fora de nós essas causas. Primeiro culpamos a Deus, depois a sorte, depois outras pessoas e outras tantas causas. Na verdade, essas dificuldades são uma advertência de que andamos mal. Isso é tão verdadeiro que muitas vezes dizemos ou ouvimos dizer: “se soubesse antes o que sei hoje, quantas coisas teria evitado”!
Mas as causas desses sofrimentos também podem estar em plantios antigos, de outras vidas, feitos sem cuidado e que nos obrigam, hoje, a colheitas amargas. Dessa maneira, se hoje colhemos aflições e sofrimentos, certamente plantamos angústias e penalidades; se colhemos dificuldades materiais, devemos ter semeado o desperdício, pensando somente em nós, na satisfação egoísta de nossos desejos e caprichos; como, também, não podemos colher paz se semeamos discórdias, ou colher alegria se plantamos tristezas, ou ainda colher amor se plantamos mágoas e desamor. É da Lei Divina que tudo retorna à fonte de emissão. Ademais, o ontem já passou e nada mais podemos fazer. Todavia, neste momento, através de uma mudança nas nossas atitudes, nos nossos pensamentos, podemos iniciar outra semeadura, com vistas a um futuro mais feliz. Cabe somente a nós mudarmos esse quadro, hoje. Se desejarmos no futuro uma colheita farta e de boa qualidade, precisamos cuidar do que estamos plantando hoje, agora, neste momento.
Jesus é o Grande Semeador e se Ele encontrar em nós solos propícios, adubados com a boa vontade, a esperança, o amor e a resignação diante dos desígnios de Deus, e não mais mágoas ou queixumes, as sementes que Ele depositar em nós brotarão e se cumprirá a promessa que Ele nos fez, em nome do Pai: aqueles que souberem aproveitar essas corrigendas que Deus nos dá, através dos sofrimentos, terão o Reino de Deus, terão a felicidade plena.
Muitos dizem que a felicidade não é deste mundo. Mas ela é sim. É do mundo de luz que cada um de nós cria dentro de si na luta contra as tendências inferiores, que nos afastam de Deus e que nos trazem um sentimento de desesperança e de profundo pesar.
A felicidade é deste mundo sim, não do mundo de necessidades fantasiosas, mas do mundo do amor ao próximo pela tolerância, pela aceitação do outro como ele é, pela alegria de ser útil sem querer nada em troca. Vamos, pois, fazer novos plantios, tornando-nos uma pequena luz a espalhar o exemplo do amor por onde passarmos.
Leda Maria Flaborea
Originalmente publicado na Revista Internacional de Espiritismo (Matão) – maio de 2006.