Adolfo Bezerra de Menezes, mais tarde conhecido como o Médico dos pobres, nasceu em 29 de agosto de 1831, no atual município de Jaguaretama (CE), antiga Freguesia de Riacho de Sangue, filho de Antônio Bezerra Cavalcanti, tenente-coronel da Guarda Nacional e de Fabiana de Jesus Maria Bezerra.
Desejando ser médico, Bezerra parte para o Rio de Janeiro em 5 de fevereiro de 1851, com parcos recursos financeiros, mas com muitos sonhos. Doutorou-se em Medicina aos 25 anos de idade, pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Foi eleito membro da Academia Imperial de Medicina e nomeado cirurgião-tenente do Corpo de Saúde do Exército em 1858, quando passou a assinar o seu nome sem o Cavalcanti.
Casou-se, em primeiras núpcias, com Maria Cândida de Lacerda, com quem teve um casal de filhos. A esposa vem a desencarnar cinco anos após o casamento e depois de dois anos de seu desencarne, Bezerra casa-se com Cândida Augusta de Lacerda, irmã materna de sua mulher. Tiveram cinco filhos.
Desde o início de sua vida profissional só cobrava de quem podia pagar e a maioria de sua clientela era de gente necessitada. Não recebia contribuição financeira, mas sim muita gratidão e amor, que o fizeram querido pela comunidade local. E fazia a seguinte definição de médico: “O médico verdadeiro é isto: não tem direito de acabar uma refeição, nem de escolher a hora, nem de perguntar se é longe ou perto, quando um aflito lhe bate à porta. O que não acode por estar com visitas, por ter trabalhado muito e achar-se fatigado, ou por ser alta noite, mau o caminho ou o tempo, ficar longe, ou no morro; o que, sobretudo, pede um carro a quem não tem com que pagar a receita, ou diz a quem lhe chora à porta que procure outro; esse não é médico, é negociante de medicina, que trabalha para recolher capital e juros dos gastos da formatura. Esse é um desgraçado, que manda para outro o Anjo da Caridade, que lhe veio fazer uma visita e lhe trazia a única espórtula que podia saciar a sede de riqueza do seu Espírito, a única que jamais se perderá nos vais e vens da vida.”
Elegeu-se vereador pela primeira vez em 1861, reeleito em 1864, para depois tornar-se deputado federal em 1867 e membro da Comissão de Obras Públicas, figurando em lista tríplice para uma cadeira no Senado. No período de 1879 a 1880, foi presidente da Câmara Municipal, cargo equivalente ao de prefeito e deputado federal.
Como político, sempre foi defensor da liberdade, abolicionista e buscou regular o trabalho doméstico. Também já alertava seus pares a respeito da poluição existente no Rio de Janeiro.
Decepcionado com as perseguições e calúnias a seu respeito, abandonou a política.
Foi autor de bibliografia extensa, que inclui desde biografias de homens célebres a trabalhos sobre a escravidão no Brasil e a seca no nordeste brasileiro. Na lista também há romances como A Pérola Negra, História de um Sonho, Lázaro o Leproso, O Bandido, Viagem Através dos Séculos, A Casa Assombrada, Os Carneiros de Panúrgio, Casamento e Mortalha (inacabado), além da importante obra A Loucura Sob Novo Prisma.
Conhece o Espiritismo ao ler um exemplar de O Livro dos Espíritos, ofertado pelo também médico e amigo, Joaquim Carlos Travassos, que havia traduzido a obra para o português. Após ler a obra e identificar-se profundamente com ela, diz que já “era espírita inconsciente”. Nada mais natural, pois seus exemplos de amor ao próximo sempre estiveram presentes, desde que nunca deixou de repartir com os outros seus recursos materiais. Dez anos depois deste episódio, proclamava sua adesão solene ao Espiritismo, perante 2.000 pessoas, no Solar da Guarda Velha, em 16 de agosto de 1886.
Em 1889 é convidado a presidir a Federação Espírita Brasileira, onde institui o estudo sistemático e semanal de “O Livro dos Espíritos”. Preside a FEB, mais uma vez, de 1895 a 1900, até o seu desencarne. Sempre lutou pela união dos espíritas brasileiros.
Profundo conhecedor do Evangelho de Jesus, que leu, interpretou e praticou. Escreveu também, sob o pseudônimo de Max, uma série de artigos sobre a doutrina espírita nos jornais “Jornal do Brasil”, “Gazeta de Notícias” e “O Paiz”, este último dirigido por Quintino Bocaiúva. Posteriormente, esses artigos foram organizados, originando os três volumes de “Estudos Filosóficos”.
Na obra “Uma Carta de Bezerra de Menezes”, encontramos a íntegra de uma carta enviada ao seu irmão, datada de 31 de maio de 1886, mesmo ano de sua conversão ao Espiritismo. Acusado pelo irmão de renegar o catolicismo e abraçar ideias falsas e demoníacas, Bezerra defendeu-se serenamente expondo com objetividade e clareza a Doutrina que o sensibilizara, revelando uma cultura extremamente vasta.
Servir era o seu lema. Médico, amou a profissão. Como político, exerceu seus cargos com profundo amor à Pátria, em defesa dos interesses do Brasil.
Não esquecia também de tratar os pobres do corpo e do Espírito nas reuniões de desobsessão, na Federação Espírita Brasileira.
Desencarna em 11 de abril de 1900, às 11 horas e 30 minutos, depois de período em que passou imobilizado na cama, em virtude de uma congestão cerebral. Retorna à Pátria Espiritual, porém continua sua missão de servir aos encarnados, pela sua abnegação característica ao bem.
Na obra “Ação e Reação”, o Espírito André Luiz, através da psicografia de Francisco Cândido Xavier, no capítulo XI, relata que o instrutor Silas revela o trabalho de Bezerra no Mundo Espiritual: “Com mais de cinquenta anos consecutivos de serviço à Causa Espírita, depois de desencarnado, Adolfo Bezerra de Menezes, fez jus à formação de extensa equipe de colaboradores que lhe servem à bandeira de caridade. Centenas de Espíritos estudiosos e benevolentes obedecem-lhe às diretrizes na lavoura do bem, na qual opera ele em nome do Cristo.”
Nos anos de 1940, Bezerra de Menezes revelou-se como Mentor Espiritual da Federação Espírita do Estado de São Paulo.
Fica-nos o exemplo desse grande discípulo de Jesus que, como diz o seu necrológio publicado no jornal cearense A República, de 13 de abril de 1900: “O amor, não possuía ele platonicamente, nem o ensinava apenas pelos lábios: subia-lhe do coração e o praticava indistintamente, no exercício constante dessa caridade ativa e diligente que não raciocina, não reflete, porque é instintiva e se multiplica sob milhares formas – na tolerância, na indulgência com que antes dissimula do que repara nas alheias fraquezas” (“Bezerra de Menezes, Fatos e Documentos”, página 203).
FEESP