Impressionante é a quantidade de bênçãos de que somos dotados. O Criador não mediu esforços para nos dotar de elementos maravilhosos, em prol de nossa própria evolução.
Nós poderemos chamar tudo isso de talentos. Sim, poderíamos chamar tudo isso de talentos.
Jesus Cristo nos trouxe uma parábola que ficou conhecida como a Parábola dos Talentos. Nessa parábola, o Mestre nos fala de um senhor muito rígido, muito exigente, que ao fazer uma viagem, deixou com três dos seus servidores uma quantidade de moedas.
Com o primeiro deixou uma quantidade grande, com o segundo outra menor e com o terceiro servidor, deixou uma única moeda.
Ele queria voltar e saber o que é que os seus servidores seriam capazes de fazer com aqueles recursos.
O primeiro, sabendo das características do seu senhor, tratou de multiplicar, de aplicar aqueles recursos.
O segundo fez a mesma coisa. Mas o terceiro, que tinha recebido menos, preocupado com a reação que pudesse ter o seu senhor, caso ele não fizesse o dinheiro progredir, tratou de enterrá-lo, sepultou o talento, o dinheiro.
E quando retorna o senhor, a coisa fica muito interessante. Porque o senhor se dirige ao primeiro, que tinha recebido maior quantidade e vê o quanto ele produzira na sua ausência.
O segundo servidor também aproveitou, aplicou, multiplicou. E o terceiro, exatamente aquele que tinha recebido um talento somente, preocupado, com medo, sepultou, aniquilou o talento.
E, para surpresa de todos, o senhor tratou de abençoar aqueles dois que tinham multiplicado os seus recursos e lamentou aquele que tivesse recebido apenas um, que tinha recebido um só talento e nada fez com esse talento recebido.
E é curiosa a fala de Jesus Cristo, pondo na voz do senhor as Suas advertências: Àquele que mais tem, mais se lhe dará. Àquele que nada tem, até o que pensa ter lhe será tirado.
A princípio parece uma medida injusta.Como é que se vai dar mais a quem já tem? Mas a questão é lógica, porque aquele que mais tem, foi o que mais produziu, o que mais e melhor aplicou, o que fez render os recursos do senhor.
E aquele que enterrou a moeda, até a moeda que ele julgava ter não era dele, era um empréstimo do senhor. Até o que ele pensava ter lhe seria retirado.
Na nossa vida na Terra, nós também somos dotados de vários talentos. Cada qual de nós, que nasce no mundo, tem a possibilidade de experimentar talentos variados, oportunidades que nos são concedidas pelo Pai Criador.
Nós somos dotados, por exemplo, do talento da inteligência. Quanta coisa podemos realizar com a nossa inteligência.
O fato de não termos uma deficiência mental, uma doença cerebral, que nos dificulte a atividade mental, que nos dê capacidade de agir, de pensar, de laborar.
É uma bênção a inteligência que temos na Terra. É um talento que deveremos saber multiplicar, aplicar em prol da vida, em prol do bem, em prol das coisas, das pessoas.
Mas temos um outro talento que a vida nos concede no mundo. O dinheiro, por exemplo.
Aqueles que têm a oportunidade de nascer em berço de ouro, ou ainda que não seja berço de ouro, mas que tenha facilidade financeira, econômica, facilidade monetária.Em quantas coisas pode transformar esse dinheiro: em escola, em hospitais, em lares, em oportunidade de estudo, em esportes, em saúde, em bênçãos multiplicadas, sem deixar de usufruir do próprio dinheiro.
Nós encontramos as bênçãos ora, as bênçãos da cultura. As pessoas que podem viajar, conhecer lugares, aprender coisas. Tudo isso faz com que sua cultura cresça.
Aquelas que têm acesso aos livros, às bibliotecas, aos museus, quanto aprendem e quanto podem fazer com esse aprendizado, socializando a sua cultura.
Nós que somos portadores de saúde, ora, a nossa saúde é um talento inimaginavelmente abençoado. Porque a pessoa pode ter dinheiro, pode ter cultura, pode ter inteligência, mas se não for saudável, se não tiver saúde, pode fazer muito pouco com isso tudo que tem.
A saúde então é desses talentos maravilhosos, majestosos, com o qual e a partir do qual poderemos deixar a vida engalanar-se, a vida crescer e nos tornarmos verdadeiramente indivíduos talentosos por saber aplicar as riquezas, as bênçãos que o Criador nos concede.
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No meio de todos esses talentos que nós recebemos do Criador, as oportunidades de vida na Terra com eles, destacamos o talento do poder. Poder em toda linha.
Quem é pai, quem é mãe tem poder. Quem é político, administrador tem poder. Quem dirige uma empresa, um condomínio, tem poder. Nos mais variados níveis, o poder, estando em nossas mãos, poderemos fazer dele um bom uso ou um mau uso.
Logo, aqueles que se valem do poder de que são investidos para tripudiar sobre os outros, para infernizar a vida alheia, para tratar mal, para dominar, para machucar, certamente vão dar conta desse talento.
Há talentos que são nossos, coisas que nós já conquistamos como virtudes, como dons que eram, passaram a ser propriedades nossas, como a nossa inteligência, como a nossa cultura.
Nada obstante, há outros talentos que vão ficar no mundo. O dinheiro, o poder, a riqueza em geral, tudo quanto temos, vai ficar no mundo. A única riqueza que nós levaremos, depois da morte física, é aquela que Jesus Cristo disse que deveríamos fazer questão de conquistar.
Aquela riqueza que o ladrão é incapaz de roubar, a ferrugem não pode corroer, muito menos a traça pode consumir. E uma riqueza com essas características só pode ser a riqueza da alma. Todas as demais são coisas, são objetos, são valores que ficam no mundo, porque ao mundo pertencem.
Desse modo, os nossos talentos devem ser utilizados para o bem da vida. Não foi à toa que Cristo nos propôs aprendêssemos a fazer amigos com as riquezas do mundo. Quantas vezes nós somos portadores de riquezas no mundo e de riquezas do mundo e não conseguimos fazer nada por ninguém.
Usufruímos, apenas usufruímos egoisticamente, fechado em copas. Usufruímos, aproveitamos, mas não conseguimos socializar com ninguém uma moeda, uma palavra, uma oportunidade com quer que seja.
E desse modo, costumamos sair da Terra com muitos comprometimentos. Porque nós estamos aqui exatamente para saber utilizar os talentos que Deus nos deu. Cada qual tem o seu.
Imaginemos a criatura que sabe pintar um quadro a óleo, um quadro a nanquim, quanta beleza expressa numa tela. Nós poderemos desenvolver em nome dos nossos talentos.
Imaginemos quantas crianças poderiam ter material escolar. Não poderiam faltar à escola, se nós ajudássemos com um kit de material escolar, no início das aulas. Com o uniforme, com a merenda escolar, com recurso para sua passagem.
Nós podemos fazer tanto bom uso dos valores que temos. Imaginemos alguém que cante, que tenha uma voz maviosa, usando esses recursos para embelezar a vida, para adocicar os ouvidos da Humanidade.
É natural que vai ganhar o que merece, o que precisa para viver, mas a sua arte, o seu canto serão as expressões de Deus para embalar as lutas, as dores e as alegrias humanas. Nossos talentos não devem ser desperdiçados.
Mas há um talento notável que muita gente não dá importância. É o talento da crença, da fé religiosa. Muita gente afirma que pode viver no mundo sem religião. Que a religião não lhe faz nenhuma falta, o que admitimos ser improvável.
A religião nos faz muita falta. Notamos que muita gente não frequenta a igreja, não vai a templos, não participa de nenhum culto, mas tem o amor pela Humanidade, dedica-se a servir a Humanidade.
Empresta seu tempo, suas mãos, sua inteligência, seu dinheiro, seu poder em prol de grupos humanos. Dedicam-se aos vegetais, a resguardar os mananciais, a tratar dos animais, a cuidar de crianças órfãs, de velhos abandonados, de doentes mentais, psiquiátricos, de doentes com lesões físicas. Essa é a sua religião.
Vale lembrar que um dia, depois que Madre Tereza de Calcutá retirou das lixeiras de Calcutá um homem, nas bordas da agonia da morte, fê-lo banhado e colocou numa cama digna, para que ele ali morresse, ele tomou-lhe das mãos e perguntou-lhe em lágrimas:
Qual é, senhora, a sua religião?
E Madre Tereza lhe respondeu, marejada de emoção:
A minha religião é você.
E qual é o Deus ao qual a senhora serve?
Meu Deus é você.
Logo, transformar a nossa religiosidade em amor ao próximo é algo indizivelmente grandioso, que faz com que aprendamos a valorizar os talentos que Deus nos deu; a dignificar os talentos que vamos levar para depois da morte.