por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná.
Reflexões
28/09/2024 18H00
Encontramos um ensino notável de Paulo de Tarso, o grande Apóstolo do Cristianismo nascente, quando ele disse: Dai graças a Deus por todas as coisas.
Esse ensinamento de Paulo, naturalmente enfoca a questão da gratidão.
Via o Apóstolo a importância de se agradecer.
Percebemos que esta não é uma praxe entre as criaturas humanas. Todos nós gostamos de receber. E como gostamos! Mas, a questão é na hora de agradecer.
Parece que as pessoas que fazem as coisas para nós, que nos atendem de alguma forma, no nosso juízo profundo, não fazem mais que sua obrigação, quando não é verdade.
E aí começamos a encontrar espetáculos tenebrosos de ingratidão. Espetáculos de ingratidão que começam, muitas vezes, dentro de nossa casa, dentro do lar.
Quantas vezes, conversando com psicanalistas, com psicólogos e eles falam das reclamações, das queixas de muitos filhos referentemente aos seus pais.
É muito difícil encontrar filhos que não tenham queixas de seus pais. Nada obstante vale pensar que os pais também teriam queixas dos seus filhos, mas porque os amam, os toleram.
E, desse modo, nós vemos com muita estranheza a ingratidão dos filhos pelos pais. Muitos alegam que sua mãe têm defeitos A, defeitos B; outros dizem que seu pai tem esse ou aquele defeito. Uns dizem que sua mãe não liga para eles, não lhes dá importância, outros dizem que sua mãe os abafa.
Outros falam que seus pais nunca os abraçaram, nunca os beijaram. Outros falam que seus pais são muito exigentes, que o pai é muito cobrador.
E nós ficamos pensando. Naturalmente aqueles que reclamam tanto dos pais, seja o pai, seja a mãe, nunca se detiveram para pensar que, por mais complicado que seja o nosso pai, que seja a nossa mãe, eles têm uma virtude pela qual teríamos que ser perpetuamente agradecidos.
Sim. Foram eles que nos deixaram nascer, para que eu tivesse essa vivacidade que tenho hoje, para que eu tivesse essa liberdade que eu tenho hoje, para que eu pudesse ser como eu sou hoje. Eu devo a eles, com todos os defeitos que eles possam ter.
É natural pensar que quem não consegue agradecer ao seu pai, à sua mãe que lhes deram a vida física, que lhes concederam a oportunidade do corpo físico, da vida na Terra, dificilmente agradecerão aos outros, aos estranhos. Aquele que não agradece a seus pais, não agradece a ninguém.
Alguns dizem: Mas eu não amo a minha mãe. Outros afirmam: Mas eu não amo meu pai, essa é uma outra questão.
Analisando tudo isso, dentro do enfoque reencarnacionista, nós podemos bem admitir que, na maioria das vezes, os filhos e os pais são Espíritos antagônicos, Espíritos que tiveram experiências não muito felizes em outras existências e que, por isso, quando chegam no mesmo lar, debaixo do mesmo teto, a Divindade propõe que eles se acertem. Nessa inconsciência relativamente ao passado, nesse esquecimento que o passado nos impõe na nova vida, é para que nós nos acertemos e não para que criemos problemas com a questão da ingratidão.
É por isso que vale a pena pensar que a gratidão é uma virtude de quem consegue amar, mas também de quem consegue raciocinar.
Verificando essa dificuldade dentro dos lares, quando muitos filhos são ingratos para com seus pais, ficamos a pensar o que eles encontrarão pelos caminhos afora, o que a vida a eles reservará. Porque se a gente não é capaz de dedicar esse sentimento de agradecimento pela vida, pelo corpo físico, pelas oportunidades, pelo lar, pela escolaridade que tivemos, mesmo pelas lutas que nos conferiram valor, quem não consegue agradecer isto, como vai agradecer outras coisas?
Todas as pessoas que nos fazem bem, que nos ajudam a crescer, mormente quem nos deu o corpo físico, são dignas do nosso agradecimento.
Agradecer é servir a vida, é uma forma de ser feliz.
* * *
Somente quando nós conseguimos agradecer a pai e mãe é que estendemos essa gratulação a outras pessoas, porque os amigos mais próximos nossos são eles, nossos pais.
Mas, às vezes, encontramos o hábito ruim, que vem se implantando mesmo dentro dos lares, que é o hábito de não se ensinar aos filhos a agradecer.
Porque começam as relações dos nossos filhos com os servidores domésticos, com as empregadas domésticas. E porque são empregadas domésticas, passa pelo imaginário geral de que essas pessoas não devem receber agradecimento. Como não?
Claro que elas estão recebendo um salário para nos servir, para nos ser úteis, no entanto, toda criatura se sente feliz, gratificada, quando nós lhe agradecemos.
É por isso, então, que vale a pena agradecer a toda criatura que, de alguma forma, nos atende.
O servidor doméstico pôs a comida à mesa: Muito obrigado, Fulano. Retirou o nosso copo, o nosso prato: Obrigado, Fulano. Porque a criatura pode fazer com má vontade.
Se aprendemos a agradecer, ela terá gosto em nos servir, gosto em nos atender. E, nessas relações todas que estabelecemos uns com outros, não podemos perder de vista a questão energética, a questão vibratória.
Aquela criatura que sabe que nós a estamos desdenhando, ela vibra mal com relação a nós, faz as coisas para nós, vibrando negativamente. São capazes de impregnar aquilo que nos servem, aquilo com que nos atendem. E não custa dizer à nossa servidora doméstica: Fulana, Beltrano, por favor, traga-me um café. Fulana, Beltrano, muito obrigado. Não custa, é uma palavra a cada momento em que nos sintamos agraciados.
Quantas vezes entramos num restaurante, chamamos o garçom de moço ou garçom, não lhe sabemos o nome, nem temos interesse em saber, e o tratamos como se ele não fizesse mais do que a obrigação em nos servir.
É verdade, ele recebe salário para nos servir, mas, como pessoas amorosas, como pessoas que buscam a paz no mundo e querem ajudar com aquilo que lhes é mais fácil, não nos custaria agradecer ao garçom que nos serve à mesa.
Com toda certeza, cada vez que ele vier à mesa para nos servir, ele terá um sorriso, ele terá uma alegria, terá aquela satisfação em colocar no nosso prato, no nosso copo aquilo que estamos solicitando.
A grande questão é trabalharmos, energeticamente, as relações, sabedores do quanto o indivíduo se sente feliz quando recebe um agradecimento.
O balconista, quem é que agradece ao balconista? Ele não faz mais que a obrigação, ele está recebendo para isso, esse é o discurso que nós usamos.
Mas é tão bom quando alguém nos atende. Depois de termos feito o balconista descer todos os produtos para que nós verificássemos qual deles iríamos levar e, às vezes, não levamos, e depois daquele sacrifício todo nós dizermos: Muito obrigado, você foi muito gentil.
Quantas vezes essa criatura, que está do outro lado, atendendo no balcão, espera uma palavra de alguém, diante das crises humanas que está vivendo.
Há algum tempo, saindo do aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, dirigindo o carro, estava com um amigo e passei pela jovem que cobrava a entrada do estacionamento, que cobrava o tíquete. Parei o carro e entreguei-lhe o tíquete, ela me disse o valor e, por trás dessa moça registrei uma presença espiritual.
Era um senhor de cabeça branca, com ar preocupado, e dizia-me assim: Mexa com ela, brinque com ela, ela é do Ceará. E naquele átimo, olhei aquela jovem entristecida, aborrecida, e disse-lhe: Olá, cearense. E ela abriu um sorriso.
Como é que o senhor sabe que eu sou do Ceará? Eu digo: Pelo seu jeito. E ela ficou feliz, agradecida.
Eu lhe disse: Muito obrigado, embora ela estivesse ali para atender a todo mundo que quisesse pagar o estacionamento.
Agradecer não deveria ser uma obrigação, deveria ser uma alegria, um dever nosso de fraternidade.
Transcrição do Programa Vida e Valores, de número 139, apresentado
por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná.
por Raul Teixeira, sob coordenação da Federação Espírita do Paraná.