(Tiago 2, 24)
O Espiritismo nos destina a fé raciocinada, lastreada, portanto, pela razão, sendo ela extremamente dinâmica, nos fazendo obreiros do nosso progresso moral; esta é a verdadeira fé; a fé com obras; a fé que nos leva ao merecimento, pois “revela o seu objetivo, que consiste em conduzir a criatura ao Criador, mediante a lei incoercível da evolução”. (1) É a fé que, como mola propulsora, nos impulsiona à reforma íntima e à nossa ascensão espiritual; nos irmana ao nosso próximo, luarizando a nossa evolução, por remeter-nos à | |
reparação de nossas faltas e nos dando, por isso, força espiritual. “A fé é o emblema da perfeição e a insígnia do poder”, (2) por isso carrega nela “uma verdadeira força atrativa, de sorte que aquele que não a possui opõe à corrente fluídica uma força repulsiva, ou, pelo menos, uma força de inércia, que paralisa a ação...” (3) |
A fé exerce assim o seu poder de cura, pois é a chave que abre a porta da casa construída pelo nosso merecimento, para que possamos ser beneficiados pelos fluidos da justiça divina; a fé nos eleva a Deus e O traz até nós, deixando-nos usufruir a Sua bondade infinita (veja a figura). Esta “graça”, no entanto, só acontece, quando existe este anelamento entre a nossa fé e o nosso merecimento.
“A fé é força que irradia como energia operante e, por isso, consegue remover as montanhas das dificuldades, aplainar as arestas do conflito, minar as resistências que se opõem à marcha do progresso.” (4)
A fé cega, ao contrário, é estática e acaba estagnada no fanatismo; é a fé sem obras e “(...) que aproveitará, irmãos meus, a um que diz que tem fé se não tem obras? Acaso podê-lo-á salvar a fé? (...) a fé se não tiver obras é morta em si mesma.” (Tiago 2, 17)
Obra, segundo a conotação bíblica, é o cumprimento dos nossos deveres morais e as boas obras têm mérito e serão recompensadas, porque “a cada um será dado, segundo as suas obras.” (Mateus 16, 27)
No Evangelho, no episódio da cura do servo do centurião romano(Lucas: 7, 1-10), este tendo ouvido falar de Jesus, mandou suplicar por alguns anciãos judeus que Ele viesse curar o seu servo e eles, dirigindo-se a Jesus, imploraram seu concurso, dizendo: “É um homem que merece lhe faças esta graça, pois que ama o nosso povo e nos edificou uma sinagoga.” Supõe-se que eles sabiam que Jesus valorizava o merecimento e por isso invocaram o argumento, e Ele o curou, e só o faria nestas primeiras circunstâncias.
Na parábola da mulher hemorroíssa, que padecia de hemorragia havia doze anos (Marcos, 5, 21-43), esta veio-lhe da multidão e tocou-lhe a capa, na certeza inquebrantável de que ficaria sã e Jesus, dirigindo-se a ela, assim se expressou: “Filha, a tua fé te salvou; vai-te em paz e fica curada do teu mal.”
Ainda no Evangelho, na parábola da cura dos dez leprosos (Lucas 17, 11-19), Jesus se dirigiu ao samaritano, único dos dez que havia retornado para, prostrado aos seus pés, render-lhe graças, pronunciando as seguintes palavras: “Levanta-te, vai, tua fé te salvou.” Os outros nove haviam sido curados, mas só o samaritano estava, assim como a mulher hemorroíssa, salvo pela fé; “salvo sim porque ela fez desabrochar na alma do samaritano o valor, a alegria sã, a gratidão.” (5)
Ao paralítico na piscina, depois de curado, Jesus disse: “Olha, já estás são; não peques mais, para que te não suceda alguma coisa pior.” (João 5, 1-14)
Havia aí, pois, um condicionamento para a perpetuação daquela cura, que era o de não pecar mais, mantendo-se na prática das boas obras, para que não lhe sucedesse a recidiva, ou coisa pior.
Nós espíritas temos que ser os obreiros do amor, em relação ao nosso próximo, amando-o como a nós mesmos e, portanto, também nos amando, como a ele mesmo; acreditar em Deus, acreditando em si mesmo, sendo “filhos legítimos da fé que pensa, da fé que desvenda a imortalidade, da fé que conduz a Deus.” (6)
A fé é, assim, a luz da esperança; a esperança, a dinamizadora da caridade, e a caridade, a fonte da reforma íntima, só conseguida pela ação, espelhada na vivência dentro dos preceitos evangélicos. “A vida de Jesus constitui a obra programada pela fé.” (7)
Não se pode questionar esta sincronização entre o amor, a fé e as obras, contra os argumentos na interpretação errônea dos textos bíblicos, muita vez com dolo, de que “só a fé salva e obras nada valem”.
Citaremos, na bibliografia, algumas referências de alguns destes mesmos textos, inclusive os selecionados no nosso trabalho, (8)para que não paire qualquer dúvida sobre o que neles foi dito.
“Infelizes daqueles que usam a fé para crescer no materialismo”, (9) porque “Nem todos os que dizem: Senhor! Senhor!, entrarão no reino dos céus; aquele, porém, que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, esse entrará no reino dos céus.” (Mateus 7, 21)
BIBLIOGRAFIA:
(1) VINÍCIUS. Na Seara do Mestre; 5ª ed.: FEB, 1985, pg 57.
(2) SCHUTEL, Caibar . Parábolas e Ensinos de Jesus: 13ª ed., SP: Casa Ed. “O Clarim”, 1993, pg. 261.
(3) SANT´ANNA, Ernani. Notações a um Aprendiz, RJ: FEB, 1991, pg. 39.
(4) FRANCO, Divaldo. Jesus e o Evangelho_ À Luz da Psicologia Profunda. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 1ª ed., RJ: Liv. Esp. Alvorada. Ed., 2000, pg. 165.
(5) VINÍCIUS. Nas Pegadas do Mestre: 7ª ed., FEB, 1989, pg. 50.
(6) SCHUTEL, Caibar. “O C|LARIM”, Casa Ed. O Clarim, SP, maio, 2000, pg. 5.
(7) MAIA, João Nunes. Pelo Espírito MIRAMEZ. Cristos, 1ª ed., 1989, pg. 163.
(8) Gênesis (4, 7); Salmos (27, 4-5); Provérbios (11, 18); Eclesiástico (36, 18); Mateus (5, 12; 7,15-20; 10, 40-42; 16, 27; 25, 31-40; Lucas (7, 1-10; 17); João (3, 20); Romanos (2, 5-11); Coríntios (I; 13,3; II: 5, 10); Hebreus (6, 10); Tiago (2, 14-18; 2 ,24); Apocalipse (22, 12).
(9) GLASER, Abel, pelo Espírito SCHUTEL, Cairbar. Fundamentos da Reforma Íntima: 4ª ed., Casa Ed. O Clarim, 2000, pg. 84.
Por FERNANDO A. MOREIRA