Com muita propriedade, o insigne codificador da Doutrina Espírita, Allan Kardec, aborda o tema da “sensação nos espíritos”, nas diversas obras por ele editadas, ressaltando em O Livro dos Espíritos, exatamente na questão 257, o estudo do porquê da fome, da sede, do calor e da dor, experimentados pelos seres do além. Até mesmo é descrita a possibilidade de um espírito suicida ter a impressão de estar sendo roído pelos vermes.
Digno de destaque o fato de setores científicos materialistas encararem a morte como ponto final de todas as experiências humanas e, portanto, desconhecerem inteiramente o que se passa além da vida física. Ao mesmo tempo, as religiões constituídas vagueiam, confusas e desorientadas, ainda presas nas teias do vetusto e desatualizado dogmatismo, relatando que as almas sofrem ou sofrerão um julgamento divino cujo veredicto, se positivo, as contemplará com o “céu”, enquanto as condenadas serão encaminhadas para o “inferno”, local de sofrimento vivenciado por toda a eternidade.
No Catolicismo há a informação mais branda de existir também o purgatório, lugar onde as almas dos que cometeram pecados leves se purificam, sendo castigadas temporariamente e assim poderem ser preparadas para a entrada gloriosa a seguir no “Reino dos Céus”.
Um dos livros chamados de deuterocanônicos, pelos católicos, e de apócrifos, pelos protestantes, é o II Macabeus, onde é ressaltado um sacrifício expiatório, realizado por Judas Macabeus, herói na guerra de independência religiosa dos hebreus contra a Babilônia, a favor dos defuntos, para que fossem livres de seus pecados (1).
No Espiritismo, as informações pós-morte são abundantes, comprovando ser ela mesma a doutrina que revive o Cristianismo, o excelso Consolador Prometido por Jesus. Portanto, através dos ensinamentos espíritas, a natureza das sensações nos espíritos pode ser descrita em profundidade, explicando muitas questões pertinentes ao assunto em tela, tais como: o espírito se alimenta na dimensão espiritual? Pode praticar sexo? Pode satisfazer os mesmos vícios fomentados na arena física? Pode experimentar a individualidade após o decesso corporal impressões físicas?
Na obra espírita Devassando o Invisível, escrita pala saudosa médium Yvonne Pereira, é observado o primoroso ensinamento do espírito de Bezerra de Menezes a respeito da sensação nos seres extrafísicos, dizendo que as entidades ainda não esclarecidas têm o direito de serem providas de “certas necessidades imaginárias”, as quais, como espíritos, “já não poderão sentir, mas que a mente conserva, pelo seu retardamento evolutivo” (2).
Em apenas uma frase, o venerando benfeitor esclarece o assunto, dando a devida explicação, desde que “entidades presas à Terra” (3) contêm vestimentas espirituais ou perispíritos densos, fazendo com que mantenham as impressões vividas na dimensão física, eivadas de reminiscências, distinguindo as percepções que têm sede na alma.
Os seres, quando vivos na carne, se situavam numa faixa de dependência absoluta da matéria. Depois, libertos dos liames terrenos, continuam jungidos às impressões mais deletérias, ávidos de sensações das mais inferiores.
Os Espíritos inferiores, ostentando uma vestimenta espiritual mais densa, têm uma afinidade intensa à matéria grosseira, e é isto que faz com que esses seres de baixa classe conservem por tanto tempo as ilusões da vida terrestre: pensando e agindo como se estivessem ainda encarnados, tendo os mesmos desejos e, pode-se dizer, aprisionados aos vícios terrestres.
Entidades viciosas
Não podendo, no post mortem, se locupletar no fumo, na bebida ou em qualquer solicitação viciosa, os espíritos, em contato com os dependentes encarnados, tornam-se parceiros, induzindo-os com persistência aos vícios, desejosos sempre de satisfação, querendo sempre mais, nunca se satisfazendo, buscando até mesmo outros companheiros, na arena física, mergulhados no lodaçal do mal.
Ao contato com os encarnados, absorvem a energia vital, ato extremamente gratificante para eles, porquanto, possuindo o perispírito excessivamente denso, sem capacidade de haurir energia natural, necessitam com veemência desse grosseiro “alimento”.
No livro O Prisioneiro de Cristo, de R. A. Ranieri, versando a respeito do estimado médium Chico Xavier, é assaz pertinente ao assunto em tela o diálogo travado pelo Chico com o autor da obra: - “Sabe, Ranieri – dizia Chico Xavier – quando eu trabalhava no Centro com José Xavier, ia lá um rapaz que bebia muito, mas que desejava deixar de beber. Falou-nos. Começamos a orar e pedir por ele. O rapaz enchia-se de boa vontade e durante a reunião ansiava se libertar, mas saía dali e tornava a beber. Nós insistíamos nas orações”.
–” Um dia, Emmanuel me disse: ‘Você, Chico, vai acompanhá-lo quando sair daqui e verá o que ocorre com ele’. Assim fiz. Dilatou-se-me a vidência e passei não só a acompanhá-lo no plano físico como também a vê-lo no campo espiritual”.
--“Assim que saiu, na porta do Centro, esperavam-no quatro entidades inferiores que logo o envolveram e o conduziram para um bar. Enquanto um lhe fazia companhia dentro do bar e absorvia-lhe aspirando a pinga que ele ia bebendo, os outros três montavam guarda”.
–” Ele bebia. O primeiro foi lá como dissemos e aspirou toda a bebida. Depois aquele saiu, e foi o segundo. Ele bebeu mais e o segundo absorveu a bebida. Saiu este e foi o terceiro e depois o quarto. Enquanto bebia, os outros três impediam que um quinto Espírito que se aproximara também bebesse com ele”.
-” O rapaz era propriedade dos quatro Espíritos, era deles, pertencia-lhes. Olhei o Chico e compreendi-lhe a lição” (4).
Em verdade, os seres, subjugados ao vício, situam-se como débeis escravos subordinados a algozes espirituais, cruéis e torturadores, os quais podem, infelizmente, conduzi-los à morte prematura, sendo, então, recebidos, nas paragens espirituais, como suicidas indiretos.
Interessante e muito esclarecedor o episódio narrado pela médium Ivonne Pereira, igualmente na obra Devassando o Invisível, quando, em pleno desdobramento ou projeção da consciência, fora do corpo, observou um espírito sofrendo o rigor da fome e levando uma colher à boca, cheia de uma apetitosa sopa de legumes. De imediato, o infeliz repudia o alimento e arremessa o prato ao longe, porquanto no lugar do caldo de legumes via postas de carne humana.
Um estudioso da psicologia, ao ser questionado a respeito de alguém que, em sonhos, se veja na mesma situação descrita pela médium, disse estar a pessoa padecendo um intenso complexo de culpa, atormentada pela lembrança de algum fato aterrador de que tenha sido protagonista, afligida por um cruciante remorso.
Esta foi a explicação igualmente recebida da Espiritualidade pela estimada medianeira Yvonne.
Não resta dúvida de que chegará o dia em que a ciência espírita será por certo confirmada pela ciência acadêmica e, então, a humanidade viverá um ciclo de esperança e paz, sob a égide do nosso amoroso Mestre Jesus.
Bibliografia:
- Livro II de Macabeus, capítulo 12, versículos 43 a 46;
- Devassando o Invisível, Yvonne Amaral, 2ª edição, FEB;
- Denominação dada por Edith Fiore, PHD em Psicologia, na obra Possessão Espiritual, aos seres do além presos às sensações físicas.
- Prisioneiro de Cristo, Editora Lake, R. A. Ranieri;