A palavra gozo, segundo o dicionário Caldas Aulette, significa: “satisfação
intelectual, moral ou material; prazer; posse ou uso de alguma coisa de que
provém satisfação, vantagem, regalos, interesses”.

Segundo os Espíritos: “(…) devemos entender por bens da Terra tudo quanto o
homem pode gozar neste mundo”.

Assim, “Gozo dos bens da Terra” significa posse ou uso de tudo que traz
prazer, satisfação ao homem.

O Espírito precisa viver em mundos materiais para desenvolver as
potencialidades divinas que traz em si. Deus assim o quis, impondo ao princípio
espiritual a união com o princípio material para que ambos progredissem. Quando
esse princípio se torna Espírito, continua o determinismo divino: o
desenvolver-se junto à matéria.

Tendo, pois, necessidade de viver na Terra, Deus deu ao homem o instinto de
conservação, desenvolvido nos reinos vegetal e animal e o direito de ter, de
usar os bens materiais, de usufruí-los, sentindo prazer no seu uso.

O viver na Terra propicia ao homem prazeres materiais, que o induzindo a
procurá-los, leva-o a amar a vida terrena, condição necessária para que ele
queira permanecer na Terra, progrida e concorra para o progresso do mundo que o
acolhe.

Vivendo na Terra, tantas vezes quantas forem necessárias, desenvolvendo sua
razão, seu intelecto, seu senso moral, no trabalho para a sua manutenção,
sobrevivência e meio de obter bens, propriedades, o homem caminha para a
perfeição e felicidade.

Enquanto o homem não desenvolve a sua espiritualidade e o senso moral, que o
levam a perceber o que lhe é útil e necessário em sendo um ser espiritual, ele
valoriza a vida na Terra somente pelos prazeres materiais.

Quanto mais desenvolve sua racionalidade e moralidade vai percebendo outros
prazeres, outros valores, preservando-se dos excessos.

Kardec escreve: “Se o homem não fosse instigado ao uso dos bens da Terra,
senão em vista de sua utilidade, sua indiferença poderia ter comprometido a
harmonia do universo. Deus lhe deu o atrativo do prazer que o solicita à
realização dos desígnios da Providência. Mas, por meio desse atrativo, Deus quis
prová-lo também pela tentação que o arrasta no abuso, do qual sua razão deve
livrá-lo”.

Por quê tentação?

Pelo prazer proporcionado pelos bens terrenos, o homem é levado, tentado ao
abuso, aos excessos. E é a razão com a moralidade, na análise dos efeitos dos
excessos, da utilidade dos bens e dos limites do prazer, que o homem vai
aprendendo ao uso correto dos bens materiais em seu próprio benefício.

Todo excesso, todo abuso conduz às conseqüências desagradáveis e quanto mais
forem os excessos de toda espécie, mais sofridas serão essas conseqüências,
podendo levar o homem às doenças, aos crimes, aos desequilíbrios, ao suicídio.

Provavelmente, as causas da maior parte dos sofrimentos atuais de pessoas que
buscam viver corretamente no cumprimento do dever, estão na intemperança nos
excessos do uso dos bens terrenos, em vidas passadas.

O que impulsiona o homem à busca abusiva dos prazeres proporcionados pelos
bens materiais?

A nosso ver são: a descrença em Deus, em um objetivo vivencial; a crença na
mortalidade da alma juntamente com a morte do corpo físico; a crença na
unicidade da existência terrestre. Daí, as frases: “A vida é curta, gozemo-la”.
“Vive-se somente uma vez: vamos gozar a vida”. “Antes que a morte chegue,
aproveitemos os prazeres da vida”.

As idéias acima estimulam o homem a buscar a felicidade nas coisas e prazeres
materiais que satisfazem às sensações físicas, ao orgulho e ao egoísmo, mas não
atendem às necessidades do Espírito imortal, cujo destino é viver o amor em sua
plenitude.

Quando o homem se percebe como um ser espiritual, vivendo, provisoriamente,
num corpo físico, continuando o exercício da vida no plano espiritual, após a
morte desse corpo; quando percebe que o viver tem um sentido definido de
aprendizado e desenvolvimento contínuos; quando raciocina em torno das
conseqüências desagradáveis ou dolorosas, muitas vezes funestas dos excessos dos
prazeres terrenos de toda espécie, ele busca dominar-se, passando a perceber
também a necessidade de ter, de usar esses bens, sem excesso, considerando-os
como instrumentos do seu desenvolvimento espiritual.

Por isso, Allan Kardec, ao descrever as qualificações do homem de bem, ideal
a ser alcançado pelo homem, escreveu: “O HOMEM DE BEM USA MAS NÃO ABUSA DOS BENS
QUE LHE SÃO CONCEDIDOS”.

Bibliografia:

O Livro dos Espíritos – Allan Kardec – Parte 3.ª – Cap. V,
questões 711 a 714.

O Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec – Cap. XVII, item 3.


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