-Chico, Você já Chorou?


– Sim, meu filho, muito. Vou-lhe contar uma história em que muito chorei. Durante anos, visitamos uma amiga que havia se tornado paralítica e muda, levando em cada visita um pacote de biscoitos, um pedaço de bolo ou um doce qualquer. Quando já havíamos completado seis anos de visitas, lhe disse:


– Valéria, hoje estou com a impressão de que você pode falar. Fale, Valéria. Diga pelo menos “Jesus”.


Ela olhou-me demoradamente. Os olhos, límpidos como um céu sem nuvens. Fez um esforço muito grande, mas não consegui falar.


Após a prece, voltei a insistir:


– Valéria, Jesus andou no mundo, curou tanta gente, tantos iam buscá-Lo nas estradas, ou na casa onde ele permanecia e pediam-Lhe a graça da melhora ou da cura e foram curados. Imagine-se caminhando ao encontro de Jesus, embora você não ande há tantos anos. Imagine-se olhando-O e dizendo “Jesus”. Fale “Jesus”, Valéria. Ela fez novamente um grande esforço, olhou-me demoradamente. Por fim, consegui dizer:


-“JESUSO”.


Fiquei muito emocionado e as lágrimas me vieram aos olhos.


Pedi a alguém que chamasse a sua irmã.


– Valéria, minha filha, fale para sua irmã. Há muitos anos que ela não ouve o som de sua voz. Fale outra vez “Jesus”.


Ela nos olhou demoradamente. Fez novamente um esforço enorme e repetiu: “JESUSO”.


Quando nos retiramos, estávamos todos contentes e achávamos que, com o tempo, Valéria iria conseguir pronunciar algumas palavras.


Na semana seguinte, porém, ela desencarnou.


Alguns anos mais tarde, começou a aparecer-me uma entidade na forma de uma senhora muito bonita. Quando chegava, todo o meu quarto ficava iluminado. Procedia então à transmissão do passe na região do tórax, mais propriamente sobre o coração. E assim procedeu por um mês, aproximadamente.


Foi nessa época que tive o primeiro enfarte.


Mais tarde, recuperado, graças à Misericórdia Divina, no período em que fiquei vinte dias mais ou menos imóvel, a entidade apareceu-me novamente. Então lhe disse:


– Ah! minha irmã, agora compreendo porque você me dava passes no coração. Estava fortalecendo-me para resisitir ao enfarte que viria, não é mesmo?


Acenou-me afirmativamente com a cabeça.


-Olhe, quero que me dê seu nome para eu orar por você. Estou-lhe muito grato pela carinhosa assistência.


– Chico, somos tão amigos que não vou lhe dar meu nome. Vou dizer uma palavra e você vai se lembrar de mim.


– Será, minha irmã?


– Tenho certeza, Chico.


– Então diz.


– “JESUSO”


– Ah! Valéria, era você então. ..Como você está bonita…eu não mereço a sua visita.


– Sim, eu mesma. Vim lembrar os nossos sábados em que orávamos tanto. Lembro-me com emoção da última palavra que pronunciei e vim trazer-lhe confiança em Jesus. O nome de Jesus tem muita força, Chico.


– Então, ela colocou a mão sobre o meu peito e a dor desapareceu.


(Livro Chico, de Francisco – Adelino da Silveira) — com Chico Xavier.

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