Os Espíritos exercem influência nos acontecimentos da vida nos aconselhando.
Exercem essa influência não apenas pelos pensamentos que sugerem, mas têm também ação direta sobre o cumprimento das coisas, mas nunca atuam fora das leis da natureza.
Imaginamos erradamente que aos Espíritos só caiba manifestar sua ação por fenômenos extraordinários. Gostaríamos que nos viessem auxiliar por meio de milagres. Por não ser assim é que nos parece oculta a intervenção que têm nas coisas deste mundo. Assim é que, provocando, por exemplo, o encontro de duas pessoas, que suporão encontrar-se por acaso; inspirando a alguém a ideia de passar por determinado lugar; chamando-lhe a atenção para certo ponto, se disso resulta o que tenham em vista, eles agem de tal maneira que o homem, crente de que obedece a um impulso próprio, conserva sempre o seu livre-arbítrio.
É exato que os Espíritos têm ação sobre a matéria, mas para cumprimento das leis da natureza, não para as derrogar, fazendo que, em dado momento, ocorra um sucesso inesperado e em contrário àquelas leis. Por exemplo, se um homem tem que morrer; sobe uma escada, a escada se quebra e ele morre da queda. Não foram os Espíritos que quebraram a escada, para que o destino daquele homem se cumprisse. A escada se quebrou porque se achava podre, ou por não ser bastante forte para suportar o peso de um homem. Se era destino daquele homem perecer de tal maneira, os Espíritos lhe inspirariam a ideia de subir a escada em questão, que teria de quebrar-se com o seu peso, resultando-lhe daí a morte por um efeito natural.
Outro exemplo: Um homem tem que morrer fulminado pelo raio. Refugia-se debaixo de uma árvore. Estala o raio e o mata.. O raio caiu sobre aquela árvore em tal momento porque estava nas leis da natureza que assim acontecesse. Não foi encaminhado para a árvore por se achar debaixo dela o homem. A este, sim, foi inspirada a idéia de se abrigar debaixo de uma árvore sobre a qual cairia o raio, porquanto a árvore não deixaria de ser atingida.
No caso de uma pessoa mal intencionada disparar sobre outra um projétil que apenas lhe passe perto sem a atingir, se o indivíduo alvejado não tem que perecer desse modo, o Espírito bondoso lhe inspirará a ideia de se desviar, ou então poderá ofuscar o que empunha a arma, de sorte a fazê-lo apontar mal, porquanto, uma vez disparada a arma, o projétil segue a linha que tem de percorrer.
Os Espíritos levianos e zombeteiros podem criar pequenos embaraços à realização dos nossos projetos. Eles se comprazem em nos causar tais aborrecimentos, que representam para nós provas destinadas a exercitar a nossa paciência. Cansam-se, porém, quando veem que nada conseguem. Entretanto, não seria justo, nem acertado, imputar-lhes todas as decepções que experimentamos e de que somos os principais culpados pela nossa irreflexão.
Os que provocam essas contrariedades, podem atuar impelidos por animosidade pessoal, ou assim proceder contra qualquer um, sem motivo determinado, por pura malícia. Às vezes os que assim nos molestam são inimigos que granjeamos nesta ou em precedente existência. Outras vezes, nenhum motivo há. Podemos por fim a isto orando por eles e lhes retribuindo o mal com o bem, e acabarão compreendendo seu erro. Ademais, se soubermos colocar-nos acima de suas maquinações, vão nos deixar, por verificarem que nada lucram.
A experiência demonstra que alguns Espíritos continuam em outra existência a exercer as vinganças que vinham tomando e que assim, cedo ou tarde, o homem paga o mal que tenha feito a outrem.
A inteligência, Deus nos outorgou para que dela nos sirvamos, e é principalmente por meio da nossa inteligência que os Espíritos nos auxiliam, sugerindo-nos ideias propícias ao nosso bem. Mas, não assistem senão os que sabem assistir-se a si mesmos. Esse o sentido destas palavras: buscai e achareis, batei e se vos abrirá.
Devemos saber que nem sempre é um mal o que nos parece sê-lo. Frequentemente, do que consideramos um mal sairá um bem muito maior. Quase nunca compreendemos isso, porque só atentamos no momento presente ou na nossa própria pessoa.
Algumas vezes, quando obstáculos parecem fatalmente opor-se à realização dos nossos projetos é isso efeito da ação dos Espíritos; muito mais vezes, porém, é que andamos errados na elaboração e na execução dos nossos projetos. Muito influem nesses casos a posição e o caráter do indivíduo. Se nos obstinamos em ir por um caminho que não devemos seguir, os Espíritos nenhuma culpa têm dos nossos insucessos. Nós mesmos nos constituímos em nossos maus gênios.
Quando algo de venturoso nos sucede devemos agradecer primeiramente a Deus, sem cuja permissão nada se faz; depois aos bons Espíritos que foram os agentes da sua vontade.
Referência:
O Livro dos Espíritos - Segunda Parte - Cap. IX - Allan Kardec