Como houve oportunidade de mencionar em ocasião anterior, a Lei de Liberdade foi didaticamente subdividida por Allan Kardec em liberdade natural, de pensar, de consciência e livre-arbítrio, conforme consta de O Livro dos Espíritos, livro terceiro, capítulo 10. Dessa forma, o nosso livre pensamento é um dos predicados que nos caracterizam como criaturas, como filhos diletos de Deus.
Contudo, essa possibilidade de agir com certa liberdade, bem como a de pensar livremente, também nos traz grandes responsabilidades. Como alertou Paulo de Tarso, “tudo me é permitido, mas nem tudo me convém” (1 Cor 6,12).
Em O Livro dos Espíritos há duas questões básicas quanto ao livre pensar, sendo respondidas de maneira simples pelos Espíritos Superiores, embora todo o Espiritismo se caracterize pela liberdade de convicções.
Na resposta à pergunta 833, os espíritos de escol nos dizem que “é no pensamento que o homem goza de uma liberdade sem limites, porque não conhece entraves. Pode-se deter-lhe o voo, mas não o aniquilar.”.
Já na questão 834, o Espírito de Verdade explica que a criatura é responsável pelos seus pensamentos diante de Deus, que somente Ele – conhecendo o que se passa no íntimo das pessoas – pode as condenar ou absolver segundo a Sua justiça.
Portanto, apenas nos nossos pensamentos é que temos plena liberdade, mas também temos a mais profunda responsabilidade de vigilância, pois Deus nos observa de modo desnudo, sabendo o que se passa no nosso íntimo antes mesmo de nós.
Além disso, existe o aspecto levantado por Emmanuel na introdução do opúsculo Pensamento e Vida, onde anota que “o nosso pensamento cria a vida que procuramos, através do reflexo de nós mesmos, até que nos identifiquemos, um dia, no curso dos milênios, com a Sabedoria Infinita e com o Infinito Amor, que constituem o Pensamento e a Vida de Nosso Pai.”.
No entanto, é no livro Roteiro que Emmanuel traça maiores explicações sobre a forma como o nosso “pensamento cria a vida que procuramos”. Segundo o que dito no capítulo 6 dessa obra, “o pensamento é o gerador dos infracorpúsculos ou das linhas de força do mundo subatômico, criador de correntes de bem ou de mal, grandeza ou decadência, vida ou morte, segundo a vontade que o exterioriza e dirige. E a moradia dos homens ainda está mergulhada em fluidos ou em pensamentos vivos e semicondensados de estreiteza espiritual, brutalidade, angústia, incompreensão, rudeza, preguiça, má vontade, egoísmo, injustiça, crueldade, separação, discórdia, indiferença, ódio, sombra e miséria.”.
Após esse esclarecimento um tanto surpreendente, mas preocupante e ao mesmo tempo imprescindível para a nossa evolução enquanto criaturas – não podemos perdê-lo de vista jamais –, o orientador de Francisco Cândido Xavier conclui dizendo que “quem acorda converte-se num ponto de luz no serro denso da humanidade, passando a produzir fluidos ou forças de regeneração e redenção, iluminando o plano mental da Terra para a conquista da vida cósmica no grande futuro.”.
Porém, como despertar e nos converter num ponto de luz na densidade da humanidade, até para podermos cooperar com o plano mental do planeta?
É novamente Emmanuel quem nos elucida, agora no capítulo 5 do seu Pensamento e Vida, dizendo ser a educação quem nos propiciará o justo burilamento, uma vez que ela, “com o cultivo da inteligência e com o aperfeiçoamento do campo íntimo, em exaltação de conhecimento e bondade, saber e virtude, não será conseguida tão-só à força de instrução, que se imponha de fora para dentro, mas sim com a consciente adesão da vontade que, em se consagrando ao bem por si própria, sem constrangimento de qualquer natureza, pode libertar e polir o coração, nele plasmando a face cristalina da alma, capaz de refletir a Vida Gloriosa e transformar, consequentemente, o cérebro em preciosa usina de energia superior, projetando reflexos de beleza e sublimação.”.
Pegando mais uma vez emprestados os dizeres de Emmanuel, postos no capítulo 20 – Vigiando, do livro Palavras de Vida Eterna, “… ocupando o nosso pensamento com os valores autênticos da vida, aprenderemos a sorrir para as dificuldades, quaisquer que sejam, construindo gradativamente, em nós mesmos, o templo vivo da luz para a comunhão constante para com o nosso Mestre e Senhor.”.
Diante de tudo o que tentamos demonstrar acerca da liberdade que possuímos no nosso pensar, utilizemos de maneira elevada essa bênção que nos foi dada pelo Senhor da Vida, contribuindo para a melhoria da nossa vida íntima, para a melhoria das formas-pensamento do local em que vivemos, cooperando com responsabilidade para o progresso do planeta como um todo, rumo ao aguardado mundo de regeneração.
Antes, todavia, não nos esqueçamos de que os nossos eflúvios mentais, guiados pelos valores autênticos da vida, serão potencializados pela educação, somada à instrução e à adesão consciente da vontade.
Trazendo todos esses valores e conceitos para o nosso quotidiano, teremos a certeza de que exercitamos plena e corretamente a nossa liberdade de pensar, de acordo com os desígnios de Deus.
Como Paulo de Tarso alertou na sua epístola aos Filipenses (4, 8), “se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso que ocupe o vosso pensamento.”
Renato Confolonieri
Fonte: agendaespiritabrasil.com.br