Quem não queira distinguir a dualidade de que se compõe
seu ser, dará à sua vida errada norteação
“A felicidade está em conhecer, o mais rápido possível,
as imarcescíveis e transcendentes verdades dos Céus,
toldadas por nossa ancestral “miopia” intelectual.”
– François C. Liran
Li algures de um autor português cujo nome lamentavelmente me foge no momento, algo mais ou menos assim: “muito apraz ao cego supor que os outros também não veem; e ao míope negar aquilo aonde a sua vista não chega; mas melhor farão os outros que veem bem, em dissuadir do erro aqueles a quem a desgraça não deixa ver, do que em lhes lisonjear o engano, encurtando a própria vista para lhes fazer companhia e aprovação…
Criaturas existem, cujo apoucamento intelectual é tamanho que só enxergam o que está perto e palpável, repelindo tudo o que a sua Alma reclama para seu deleite e evolução, permanecendo incontáveis séculos nos terrenos sáfaros da mediocridade.
Nutre-se a Alma de alimento sem substância, enquanto o corpo físico que deveria fornecer alimentação à Alma, apraz-se em lhos negar, por custosos e sacrificiais, e, altiva em si própria, a carne gasta só no seu deleite e usufruto o que para si e para a sua cativa (a Alma), Deus lhe facultou.
Na Terra levam vida leve, alegres, despreocupados, irresponsáveis, aliviados, felizes, sem compromissos, porque assim creem alcançar o gozo eterno.
Quem faz repousar só nesta vida transitória toda a sua esperança, nela só procurará dessa esperança toda a realização. Quem for só da Terra, ou quem dela só suponha ser, nela buscará os frutos que ao ser agradam; quem acreditar que é da Terra na carne, – como na fábula -, irá mergulhar em direção à sombra, perdendo o já conquistado, confirmando a profecia de Jesus: “o pouco que tem lhe será tirado”.
Quem não saiba, ou não queira distinguir a dualidade de que se compõe seu ser, dará à sua vida errada norteação, e à sua exigência, alimentação errada”.
Ai deles! Tarde verão a luz!…
O diálogo de Jesus com as irmãs de Lázaro é muito significativo: enquanto Marta afadigava-se, distraída, com as comezinhas e rasteiras situações do cotidiano, Maria comprazia-se em vislumbrar, extasiada e atenta, o infinito e indescritível horizonte espiritual que o Meigo Rabi lhe descortinava em amoroso, acessível e coloquial diálogo.
Paulo de Tarso que compreendeu admiravelmente os ensinos de Jesus, levando-os aos gentios, quando já não dava conta de tantos lugares para visitar em propagação da Boa-Nova, começou a escrever as formosas cartas, e, numa delas, dirigida aos coríntios, afirmou, como sempre, categórico: “se eu acreditasse em Jesus somente nesta vida, eu seria o mais miserável de todos os homens”.
Ele já havia se compenetrado da insofismável realidade que transcende a lama tumular, não desconhecendo as informações de “vida abundante” com as quais Jesus desvelou as infinitas regiões da Imortalidade.
Atentemos, pois, mais para o que permanece do que para o que perece. Há que se buscar os “tesouros dos Céus” inacessíveis à destruição, imperecíveis, portanto, eternos e extremamente valiosos.
Rogério Coelho