Instinto de conservação
Sem dúvida. Todos os seres vivos o possuem, qualquer que seja o grau de sua inteligência,o instinto de conservação . Nuns, é puramente maquinal, raciocinado em outros.
Deus outorgou a todos os seres vivos o instinto de conservação porque todos têm que concorrer para o cumprimento dos desígnios da Providência. Por isso foi que Deus lhes deu a necessidade de viver. Acresce que a vida é necessária ao aperfeiçoamento dos seres. Eles o sentem instintivamente, sem se aperceberem.
Meios de conservação
Deus deu ao homem a necessidade de viver. E lhe facultou, em todos os tempos, os meios de o conseguir. E, se ele não os encontra é que não os compreende. Não seria possível que Deus criasse para o homem a necessidade de viver sem lhe dar os meios de consegui-lo. Essa é a razão por que faz que a Terra produza de modo a proporcionar o necessário aos que a habitam, visto que só o necessário é útil; o supérfluo nunca o é.
A Terra produz bastante para fornecer ao homem o necessário. Se parece que é insuficiente, é que, ingrato, o homem a despreza! Ela, no entanto, é uma excelente mãe. Muitas vezes, também, ele acusa a natureza do que só é resultado da sua imperícia ou da sua imprevidência. A Terra produziria sempre o necessário, se com o necessário soubesse o homem contentar-se. Se o que ela produz não lhe basta a todas as necessidades, é que ele emprega no supérfluo o que poderia ser aplicado no necessário.
O solo é a fonte primária de onde dimanam todos os outros recursos, pois que, em definitivo, esses recursos são simples transformações dos produtos do solo. Por bens da Terra se deve, pois, entender tudo de que o homem pode gozar neste mundo.
A falta dos meios de subsistência, se atribui ao egoísmo dos homens, que nem sempre fazem o que lhes cumpre. Depois, e as mais das vezes, devem-no a si mesmos. Buscai e achareis: estas palavras não querem dizer que, para achar o que deseje, basta que o homem olhe para a terra, mas que lhe é preciso procurá-lo, não com indolência, e sim com ardor e perseverança, sem desanimar ante os obstáculos, que muito amiúde são simples meios de que se utiliza a Providência para lhe experimentar a constância, a paciência e a firmeza.
Se é certo que a civilização multiplica as necessidades, também o é que multiplica as fontes de trabalho e os meios de viver. Forçoso, porém, é convir em que, a tal respeito, muito ainda lhe resta por fazer. Quando ela tiver concluído a sua obra, ninguém deverá haver que possa queixar-se de lhe faltar o necessário, a não ser por sua própria culpa. A desgraça, para muitos, provém de enveredarem por uma senda diversa da que a natureza lhes traça. É então que lhes falece a inteligência para o bom êxito. Para todos há lugar ao Sol, mas com a condição de que cada um ocupe o seu e não o dos outros. A natureza não pode ser responsável pelos defeitos da organização social, nem pelas consequências da ambição e do amor-próprio.
Seria preciso, entretanto, ser cego, para não se reconhecer o progresso que, quanto a isso, têm feito os povos mais adiantados. Graças aos louváveis esforços que, juntas, a filantropia e a Ciência não cessam de despender para melhorar a condição material dos homens, mesmo com o crescimento incessante das populações, a insuficiência da produção se acha atenuada, pelo menos em grande parte, e os anos mais calamitosos do presente não se podem de modo algum comparar aos de outrora. A higiene pública, elemento tão essencial da força e da saúde, é objeto de esclarecida solicitude. O infortúnio e o sofrimento encontram onde se refugiem. Por toda parte, a Ciência contribui para acrescer o bem-estar. Poderíamos dizer que já se tenha chegado à perfeição? Oh! Não, certamente; mas, o que já se fez deixa prever o que, com perseverança, se logrará conseguir, se o homem se mostrar bastante sensato para procurar a sua felicidade nas coisas positivas e sérias e não em utopias que o levam a recuar, em vez de fazê-lo avançar.
Se há situações em que os meios de subsistência de maneira alguma dependem da vontade do homem, isso é uma prova, muitas vezes cruel, que lhe compete sofrer e à qual sabia ele de antemão que viria a estar exposto. Seu mérito então consiste em submeter-se à vontade de Deus, se a sua inteligência nenhum meio lhe faculta de sair da dificuldade. Se a morte vier colhê-lo, cumpre-lhe recebê-la sem murmurar, ponderando que a hora da verdadeira libertação soou e que o desespero no derradeiro momento pode ocasionar-lhe a perda do fruto de toda a sua resignação.
Se alguns que, em certas situações críticas, se viram na contingência de sacrificar seus semelhantes para matar a fome, esses terão cometido crime, pois mesmo que seja pelo instinto de conservação, há mais merecimento em sofrer todas as provações da vida com coragem e abnegação. Em tal caso, há homicídio e crime de lesa-natureza, falta que é duplamente punida.
Nos mundos em que a organização fisiológica é mais apurada os seres vivos têm necessidade de alimentar-se, mas seus alimentos estão em relação com a sua natureza. Tais alimentos não seriam bastante substanciosos para os nossos estômagos grosseiros; assim como os deles não poderiam digerir os nossos alimentos.
Referências:
O Livro dos Espíritos - Terceira Parte - Cap. V - Allan Kardec.