Gozo dos bens terrenos


O uso dos bens da terra é um direito de todos os homens. Esse direito é consequência da necessidade de viver. Deus não imporia um dever sem dar ao homem o meio de cumpri-lo.

 

Deus  colocou atrativos no gozo dos bens materiais para instigar o homem ao cumprimento da sua missão e para experimentá-lo por meio da tentação.

 

O objetivo dessa tentação é Desenvolver-lhe a razão, que deve preservá-lo dos excessos.

 

Se o homem só fosse instigado a usar dos bens terrenos pela utilidade que têm, sua indiferença teria talvez comprometido a harmonia do universo. Deus imprimiu a esse uso o atrativo do prazer, porque assim é o homem impelido ao cumprimento dos desígnios providenciais. Mas, além disso, dando àquele uso esse atrativo, quis Deus também experimentar o homem por meio da tentação que o arrasta para o abuso, de que deve a razão defendê-lo.

 

A natureza traçou limites aos gozos para nos indicar o limite do necessário. Mas, pelos vossos excessos, chegamos à saciedade e nos punimos a nós mesmos.

 

O homem que procura nos excessos de todo gênero o requinte dos gozos é uma pobre criatura! Mais digna é de lástima que de inveja, pois bem perto está da morte - da física e da moral.

 

O homem que procura nos excessos de todo gênero o requinte do gozo coloca-se abaixo do animal, pois que este sabe deter-se, quando satisfeita a sua necessidade. Tal homem abdica da razão que Deus lhe deu por guia, e quanto maiores forem seus excessos, tanto maior preponderância confere ele à sua natureza animal sobre a sua natureza espiritual. As doenças, as enfermidades e a própria morte, que resultam do abuso, são, ao mesmo tempo, o castigo à transgressão da lei de Deus.

 

O necessário e o supérfluo


O homem pode conhecer o limite do necessário. Aquele que é sábio o conhece por intuição. Muitos só chegam a conhecê-lo por experiência e à sua própria custa.

 

Mediante a organização física que nós  temos, a natureza traçou o limite das nossas necessidades. Mas o homem é insaciável. Por meio da organização que lhe deu, a natureza lhe traçou o limite das necessidades; porém, os vícios lhe alteraram a constituição e lhe criaram necessidades que não são reais.

 

Os que açambarcam os bens da terra para se proporcionarem o supérfluo, com prejuízo daqueles a quem falta o necessário, desprezam a lei de Deus e terão que responder pelas privações que houverem causado aos outros.

 

Nada tem de absoluto o limite entre o necessário e o supérfluo. A civilização criou necessidades que o selvagem desconhece. Os Espíritos que ditaram os preceitos acima não pretendem que o homem civilizado deva viver como o selvagem. Tudo é relativo, cabendo à razão regrar as coisas. A civilização desenvolve o senso moral e, ao mesmo tempo, o sentimento de caridade, que leva os homens a se prestarem mútuo apoio. Os que vivem à custa das privações dos outros exploram, em seu proveito, os benefícios da civilização. Desta têm apenas o verniz, como muitos há que da religião só têm a máscara.



Referências:

O Livro dos Espíritos - Terceira Parte - Cap. V - Allan Kardec.

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